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Tuesday, November 28, 2006

A nova burocracia predatória do ensino superior

Escrevo hoje este post devido ao estado de choque em que fiquei depois de ter perdido ontem o meu tempo a dar uma vista de olhos no programa da RTP1 "Prós e Contras" dedicado ao ensino superior. Apesar de os temas abordados terem sido diversificados, o debate que me chamou a atenção foi o do financiamento do ensino superior público. Durante estes últimos dias tem ficado mais claro o que se vai alterar na nova politica de financiamento. Afinal a redução das transferências correntes não se limita ao valor de cerca de 7% previsto no orçamento do ministério, se fôr considerada a obrigação de reter cerca de 8% do valor das receitas próprias para a caixa de aposentações o real valor da redução orçamental aproxima-se dos 15%. Assim compreende-se a frustração dos responsáveis universitários e a sua apreensão em relação ao futuro.

Até aqui não existe nenhum problema, trata-se apenas de uma decisão política de reduzir os gastos correntes das universidades, que são considerados exagerados pela burocracia do ministério. O problema coloca-se quando se apresentam as soluções para ultrapassar esta medida. O próprio ministro anunciou ontem que a grande reserva de verbas anunciada para o financiamento da investigação poderá ser utilizada em gastos correntes pelas Universidades que as obtenham, 10% a 20% dessas verbas mais especificamente. O jogo governamental de negociar relações financeiras com sectores dependentes da receita pública depois de aprovado o orçamento na generalidade parece dar frutos, pois os reitores presentes ontem no programa da RTP mostraram-se relutantemente abertos a proposta.

Como se não bastasse a revelação que afinal 10% a 20% das "famosas" verbas para ciência e investigação vão servir para as universidades públicas cobrirem os seus défices correntes de exploração, também a principal justificação do ministro para esta politica se revelou desastrosa. Novamente apresentou os chavões, MIT e grande esforço deste governo, mas desta vez acrescentou um belo gráfico onde justificava esta posição do Governo. O gráfico referia-se aos gastos públicos em ensino superior relativamente ao PIB da UE15. Portugal encontra-se ligeiramento abaixo da média da UE mas à frente de Espanha e outros, o sr. ministro pensou que nos poderia iludir com este pequeno passo de magia. Não lhe interessou referir que o país que menos investe no ensino superior público é o Reino Unido sendo imediatamente seguido pela Irlanda. Segundo a lógica do Governo esses países ainda deviam ter resultados piores que os nossos e em consequência serem bastante mais pobres. Talvez para a próxima se digne a ser mais honesto, ou pelo menos deixar de julgar que somos todos muito estúpidos, e apresente o gráfico do investimento público e privado no ensino superior em relação ao PIB, acrescentando que existem sistemas de determinados países que devido às suas especificidades e maturidade não necessitem de tanto investimento que outros países em processos de "catching-up".

Que impactos irá esta politica provocar? Em primeiro lugar pode-se dizer que começa a distorcer a aplicação do processo de Bolonha em Portugal. O que deveria ser um processo de aproximação ao sistema anglo-saxónico onde o grau de ensino superior mais longo seria o doutoramento em oposição à licenciatura está a tornar-se um processo de "canibalização" dentro das faculdades, onde a incerteza de existência de verbas e continuação de cursos e unidades de investigação aumenta à medida que as medidas estratégicas, operacionais e financeiras são adoptadas (ver noticias sobre a Univerdade Técnica de Lisboa como exemplo). O anúncio do ministro acrescenta um novo dado a este processo, existem universidades que podem prosperar na incerteza orçamental se se dedicarem a obter verbas junto da burocracia da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Eu se fosse Reitor estava já a pensar em qual seria a melhor forma de abordar este problema, baseando-me em dois objectivos estratégicos fundamentais: diminuir a incerteza orçamental e garantir um crescimento acentuado dos fundos à minha disposição (se conseguir obter dinheiro tenho mais "amigos" na organização e será mais fácil garantir o meu lugar e obter prestigio).

Se esta for a estratégia das Universidades o que poderemos esperar? Bem, do outro lado encontra-se uma burocracia cientifica avaliadora que terá o poder de fazer definhar e prosperar universidades. Esta burocracia encontra-se sujeita a legislação mas devido ao seu caracter de avaliador burocrático mantém uma opacidade significativa, que transmite incerteza para aqueles que procuram financiamentos para a sua instituição. A partir daqui o campo encontra-se aberto para o lobbyismo, tráfico de interesses, corrupção e os mais imaginativos esquemas para obter vantagem do sistema existente. Os mercados funcionam melhor quando as assimetrias de informação são menores. Nestes casos de mercados com bastante incerteza existem problemas de risco moral que podem levar a que os bons produtores sejam ultrapassados pelos bons predadores. No mercado do financiamento universitário público, as burocracias produtoras e predatórias das Universidades vão lutar para obterem vantagens da burocracia avaliadora da ciência.

Uma última palavra para o sector privado. Desde a abertura do sector ao investimento privado, os sucessivos governos têm-se dedicado a colocar este sistema no papel de "Mini Morris" (em qualidade entenda-se) do ensino superior, sendo mais evidente essa situação ao nivel da investigação onde os privados não conseguem acompanhar o investimento público. Estas reformas vão no entanto ajuda-los a ter mais "companhia" de outras instituições públicas mas vão aumentar o fosso em relação às instituições públicas que obtenham mais financiamentos. A politica para o ensino superior parece querer atacar o excesso de oferta pública de cursos (em certos sectores apenas) mas sem a coragem de os fechar directamente (com as maternidades foi diferente mas as universidades têm autonomia e é preciso respeita-la, "nós não as fechamos elas é que definham"), implementando uma espécie de mercado burocrático de fundos para o ensino superior e esperando que isso aumente a competividade e qualidade. Como em todos os mercados com assimetrias de informação excessivas a experiência diz-nos para esperarmos desde já o pior.

Friday, November 24, 2006

Flexigurança, a Empresa X e a rigidez salarial assimétrica

Continuando a falar da actualidade portuguesa, apesar de ainda sem a regularidade pretendida, esta semana encontrei um pequeno artigo do Diário de Noticias que me chamou a atenção. Este artigo, "Rigidez salarial explica divergência portuguesa", revela que a tão propagada rigidez salarial portuguesa afinal é assimétrica. Durante os anos de expansão segundo os dados da Comissão Europeia, os salários são bastante flexiveis e ajustam-se rapidamente ao ciclo, crescendo acima da produtividade.

Durante os anos 90 a Empresa X, uma firma transformadora de bens intermédios, internacionalizou-se através da obtenção de contratos com outras indústrias espanholas. As coisas corriam bem, as encomendas apareciam e a firma prosperava, expandindo-se o seu departamento de produção para niveis interessantes numa PME. Apesar disso os departamentos que mais prosperavam eram os administrativos, a Empresa X nunca tinha implantado na sua totalidade a lógica dos sistemas de informação na organização, tendo assim de contratar diversos funcionários administrativos. A área de distribuição era toda ela gerida em regime de out-sourcing. Mas que se lixe, quem precisa disso? O negócio corria bem e os salários dos efectivos aumentavam entre 5% a 10% ao ano.

O mesmo artigo do Diário de Noticias refere que o ajustamento dos salários portugueses é o mais rígido a ajustar em periodos de recessão. Existe assim uma clara tendência das firmas portuguesas em contratarem muito e em pagarem bem durante as expansões mas a terem dificuldades a ajustar os seus custos durante periodos baixos do ciclo. Será apenas culpa da lei laboral? Não conseguiram as empresas portuguesas fazer downsizing/reestruturacões como as empresas dos outros países? Não existem formas de contratação mais flexiveis em Portugal? Qual será o problema das firmas portuguesas?

Quando começou a crise esta era a primeira que a Empresa X enfrentava desde que adquiriu a sua dimensão actual. Antes disso era uma pequena firma, gerida de uma forma familiar, que properou lentamente até atingir esta nova fase. Os administradores partilhavam agora as suas responsabilidades com os seus filhos e não nos deixemos enganar estes eram tão zelosos como os pais tinham sido em relação ao desenvolvimento do negócio e à posição financeira da firma. Assim de forma a fazer face à diminuição de encomendas a administração decidiu tomar as seguintes medidas. Congelou salários, deixou de contratar estagiários, reduziu o mais possivel o sector de produção e fechou a secção de logistica passando agora a parte administrativa a gerir as questões logisticas. Em relação à parte administrativa não se executou nenhuma medida além das já referidas. O salário destes trabalhadores era elevado e as indeminizações muito altas. A Empresa X começava a cometer os primeiros erros apesar dos resultados financeiros se terem mantido nesse ano. Os erros da Empresa X eram estratégicos, a empresa estava a esquecer-se do lugar que ocupava na economia, na sociedade e qual era a sua actividade.

No mesmo jornal Sandro Mendonça escrevia um artigo de opinião, "
Gulliver, SA", onde discute a relevância das grandes empresas no desempenho macroeconómico. Um paragráfo chamou-me no entanto a atenção, Sandro referindo Chandler escreve "Nos termos de Chandler, a força competitiva das empresas depende das "capacidades organizacionais" que conseguem desenvolver internamente. As empresas são bases de aprendizagem e o seu papel é converter conhecimento tecnológico, produtivo e comercial em produtos". Acho que esta é a resposta a muitas das questões colocadas acerca dos reais problemas das firmas portuguesas. Os problemas destas não são na realidade os problemas que enfrentam mas sim a forma de os abordar. Na linguagem de Sandro as firmas portuguesas têm dificuldade em desenvolver "capacidades organizacionais" internamente o que demonstra a sua debilidade estratégica. Isto depois reflecte-se operacionalmente e na sua competitividade de longo prazo.

A crise estava a prolongar-se e as encomendas diminuiam. De forma a enfrentar estes problemas a Empresa X reagiu despedindo todos os funcionários com menos de 5 anos do departamento de produção e arranjou um contrato com uma firma transportadora que diminuia significativamente os custos de distribuição. Em relação ao departamento administrativo pouco havia a fazer, os funcionários tinham alguma antiguidade e também já tinham familia. Não podiam ser despedidos, este era um papel social da Empresa X. No final desse ano a Empresa X manteve os seus resultados financeiros, a qualidade dos seus produtos diminuiu em parte e foram registados mais atrasos que o habitual na distribuição. Mas que se "lixe" a Empresa X continuava a dar um bom lucro, a pagar ordenados razoaveis aos funcionários mais antigos e mais leais e estava longe de abrir falência. No entanto, a Empresa X tinha cometido um erro fundamental: a sua estratégia tinha-se tornado conjuntural e a sua actividade ao nivel tecnológico, produtivo e de comercialização tinha sido negligenciada em temos estratégicos e operacionais. A Empresa X não sabia mas encontrava-se vúlnerável a surpresas fossem elas económicas ou outras.

Num irado artigo de opinião com o titulo "Ricas Universidades", Sérgio Figueiredo critica a forma como as elites dirigentes universitárias têm protestado contra novo enquadramento orçamental. Sérgio Figueiredo vai mais longe e compara a gestão das Universidades com a das Empresas referindo que as principais diferenças estão nas qualificações dos recursos humanos e no seu destino quando o dinheiro começa a faltar. Sérgio lança uma ideia fundamental para um maior sucesso das organizações: a avaliação do seu desempenho a todos os níveis. Isto podia de certeza refrear os ânimos salariais durante as expansões e possibilitar a racionalização de meios sem prejuizo da qualidade. Esta avaliação necessitaria no entanto das tais organizações focadas nas suas "competências organizacionais", técnicas , produtivas e de distribuição, de forma a fazer prosperar a sua actividade. Nós sabemos que quem não está interessado em aceitar os seus defeitos muito dificilmente os irá alguma vez tentar corrigir.

No final do 3º ano de crise os primeiros sinais de retoma começavam a revelar-se e parecia que a Empresa X ia voltar a prosperar. Foi então que sucedeu um acidente com um dos camiões da firma de distribuição contratada. Este camião seguia para um dos clientes espanhois da Empresa X e todo o seu conteúdo ficou irremediavelmente danificado. Com uma capacidade financeira já enfraquecida com os 3 anos de crise e sem capacidade em stock para satizfazer o seu cliente a Empresa X perdeu um dos seus maiores contratos e ficou com a sua imagem debilitada perante os seus clientes espanhois. Apenas restava à Empresa X pedir uma indeminização à empresa de transportes mas esta negou-a referindo dificuldades com o seguro. Ao que se soube esta firma era conhecida por contratar pessoal inexperiente a recibos verdes e por negligenciar a manutenção dos seus camiões(isto ajuda a explicar o baixo preço cobrado). Sem mais alternativas a Empresa X necessitou de pedir um empréstimo bancário para conseguir concretizar um redimensionamento da sua actividade para níveis semelhantes aos da sua anterior expansão. Enquanto as discussões se sucediam sobre quais os erros cometidos e de quem teria sido a culpa, ninguém se lembrou de observar os vários relatórios elaborados por técnicos e estagiários que revelavam a necessidade de implementação de sistemas de informação e discutiam os riscos e a estratégia a seguir na área logistica. A Empresa X tinha-se esquecido de olhar ao espelho, pensar na sua actividade e gerir os seus recursos. A Empresa X foi gerida sem existir uma estratégia de longo prazo, tudo o resto que lhe aconteceu foram consequências dessa opção.

Felizmente o nosso actual Governo parece já ter uma resposta para o problema, chama-se Flexigurança, vem originalmente da Dinamarca e servirá para iniciar a revisão do actual código laboral. A ideia baseia-se num aumento da mobilidade laboral compensada por formação e interessantes mas curtos subsidios de desemprego. Ah, e não podia deixar de referir concertação entre trabalhadores e empregadores de forma a delinear estratégias que aumentem a produtividade. Este novo conceito teve direito a um artigo da Visão desta semana, onde foram apresentadas as opiniões de vários participantes da concertação social, explicações do "pai" da ideia e de vários especialistas nesta nova abordagem da Flexigurança. Resta saber como o português médio que tem o 6º ano e que o sonho é ter um Mercedes, antes era uma Famel Zundap, vai reagir quando a funcionária do IEFP lhe disser que a formação é importante e os vários conceitos da Flexigurança. E porque não pensar em como a Empresa X irá utilizar os novos instrumentos tendo em consideração a sua situação actual e a sua estratégia de gestão. Temos de ter cuidado com as leis que querem mudar radicalmente as pessoas e as organizações sem antes terem sido feitas leis para mudarem as pessoas e as organizações.

Monday, November 20, 2006

Aumento do salário mínimo - Um presente envenenado para os menos qualificados

No momento em que escrevo este post, está prestes a ser anunciado o aumento de cerca de 4% do salário minimo no final da reunião da concertação social que ainda decorre. A estratégia de negociação por parte do Governo deverá ser semelhante à utilizada durante o ano passado, apresentando um intervalo máximo acima das pretensões dos "patrões" mas abaixo das dos sindicatos. No final a proposta apresentada corresponderá ao tecto máximo apresentado o que obrigará os sindicatos a aceitar um aumento real moderado no salário minimo.

Falar de um aumento real moderado pode ser um pouco exagerado. Os individuos que possuem apenas rendimentos indexados ao salário minimo usam este em exclusivo no consumo de bens essenciais. Alimentação, rendas ou amortizações bancárias e energia. Sabemos que o impacto dos custos com habitação não é correctamente reflectido nos índices de preço ao consumidor, a nova lei das rendas irá entrar em vigor no próximo ano e está iminente um aumento das taxas de juro. Os preços da energia ao consumidor irão aumentar também acima da inflação. É razoavel considerar que este aumento será bastante reduzido em termos de poder de compra e que em muitos casos poderá ser nulo ou negativo.

Este aumento terá também repercurssões imediatas para aqueles que auferem pensões inferiores ao salário minimo nacional devido à politica de convergência das pensões. Este custo irá ser exclusivo para o Estado ao contrário do anterior que afectará o sector privado directamente. A estratégia do governo configura aquilo que se pode chamar de um esforço keynesiano moderado. Moderado porque procura alimentar a procura interna administrativamente e através dos gastos públicos, apoiando os agentes com menores rendimentos mas gerindo o risco financeiro existente, que se caracteriza por um aumento da divida pública e privada mas com uma redução dos défices publicos e de uma recuperação frágil da posição externa. Para uma abordagem mais pormenorizada da conjuntura económica actual deixo aqui o link para o Boletim de Outono do Banco de Portugal.

O presente envenenado está na forma como esta politica será concretizada. O financiamento será em parte obtido por cortes em programas públicos em conjunto com um aumento dos custos com pessoal das firmas. É neste último ponto que se encontra o presente envenenado para os menos qualificados. As firmas enfrentam agora uma expectativa de aumentos do salário minimo acima da inflação para os próximos três anos, este efeito é especialmente importante para aquelas firmas que baseiam a sua tecnologia em mão-de-obra não qualificada e geralmente renumerada pelo valor administrativo do salário minimo. Mais tecnologia implica ganhos de produtividade mas implica também trabalhadores mais qualificados e em geral melhor remunerados. Esta medida terá claras implicações na ténue transformação industrial que se tem dado em Portugal, contribuindo decisivamente para a destruição de firmas do sector têxtil e do calçado que têm baseado a sua estratégia na exploração do trabalho intensivo. O Governo dará assim aos menos qualificados um presente envenenado, pois apesar de lhes aumentar em termos reais o seu poder de compra, aumenta consideravelmente o risco de daqui a uns meses perderem o emprego, e nessa altura enfrentarem já o novo regime do desemprego, bastante mais exigente em termos de obrigações e menos benévolo em termos de direitos.

Esta estratégia comporta alguns riscos. Em primeiro lugar os detentores do capital podem achar que não existem oportunidades relevantes a aproveitar no nosso país e decidirem investir no estrangeiro, seja em projectos em concreto ou em aplicações financeiras. Em segundo lugar, a recuperação da posição externa portuguesa encontra-se dependente de sectores (destaco aqui os bens de equipamento intermédio, combustiveis e produtos baseados em recursos naturais diversos) que necessitam de infraestruturas de transporte adequadas, sendo essencial para o seu desenvolvimento investimentos na ligação ferroviária entre o norte do país e o norte de Espanha, uma recuperação efectiva do Porto de Sines e a construção de uma linha rápida de mercadorias para o Sul de Espanha (o transporte de carga aéreo também será fundamental nesta estratégia). A concretização destes projectos necessitará de investimento público e para isso é necessário existir capacidade financeira, o que pode não acontecer se o crescimento económico desacelarar devido à retracção da procura externa ou se o preço da energia retirar competitividade aos nossos sectores exportadores emergentes.

Thursday, November 16, 2006

Será o mercado de trabalho para "cientistas"* em Portugal um mercado de "limões"





Na passada segunda feira um artigo do Diário de Noticias chamou-me a atenção em particular. Esse artigo com o titulo - Feira de emprego cancelada por falta de comparência das empresas - descrevia o cancelamento de uma feira de emprego para pós-graduados organizada pela Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), por falta de respostas e interesse por parte das mais de 100 empresas contactadas. Numa fase em que o discurso acerca da importância da I&D na competitividade do sector privado se encontra generalizado pelos mais diversos circulos e meios, não pude deixar de pensar se a razão deste acontecimento não poderá ser explicado pelas ideias contidas no artigo que garantiu o Prémio nobel de 2001 a George Akerlof, "The market for "lemons": Quality uncertainty and the market mechanism".

O mercado descrito por Akerlof no seu artigo é um mercado de carros usados onde a existência de assimetrias de informação acerca da qualidade dos carros pode em determinadas circunstâncias levar a um mercado onde não existam transacções. O problema deste mercado é que apenas os vendedores conhecem o verdadeiro valor do produto e não estão dispostos a vender abaixo desse preço, enquanto os compradores não têm informação acerca da real qualidade do carro usado, tal como sucede com os limões, e acham que podem estar a ser enganados pelo vendedor. Assim os compradores oferecem sempre um preço abaixo do real valor, apenas conhecido pelo vendedor, mas este por esse preço não está disposto a transaccionar o carro. Será que se passa um fenómeno semelhante no mercado para "cientistas" em Portugal?

Antes de me referir à questão do parágrafo anterior acho importante referir o que eu acho que um "cientista" pode contribuir para uma firma privada. Em primeiro lugar é de referir que contribui como um qualquer trabalhador, ou seja em termos teóricos terá associada uma productividade marginal ao seu trabalho. Em segundo lugar podemos considerar que por possuir mais elevadas competências técnicas, que um trabalhador não "cientista", pode contribuir nas mais diversas áreas com maior eficácia para o aumento da rentabilidade e/ou productividade agregada da empresa. Por outras palavras o "cientista" apenas se distingue do trabalhador comum por o seu trabalho estar em geral mais ligado à performance agregada da firma e não tanto a tarefas do dia a dia. Um simples exemplo poderá ser um "cientista" que esteja dedicado um ano inteiro ao desenvolvimento de um produto que acaba por ser lider de mercado nos 5 anos seguintes. Se observarmos a produtividade deste individuo, ela será muito baixa no primeiro ano mas bastante alta ao longo desses 6 anos. É aqui que se encontra o problema, devido à necessidade de um periodo temporal tão alargado para aferir das capacidades do "cientista" e tendo em consideração que existe sempre incerteza no mercado e que esta aumenta à medida que observamos horizontes mais distantes, o empresário português não está disposto a comprar o "limão" que o "cientista" português lhe oferece. O empresário português perante a assimetria de informação que enfrenta não está disposto a contratar mais "cientistas limões" aos preços de mercado actuais.

Sendo generalizada pela sociedade a necessidade de aumentar a competetividade da nossa economia através da I&D (ainda bem que assim é porque a alternativa era sermos muito pobres mas competitivos) e que a inserção de "cientistas" no sector privado é fundamental, para não dizer o pilar dessa estratégia, o que se poderia fazer para pôr este mercado de "limões" a funcionar? No curto prazo poderiamos baixar o preço dos nossos "cientistas limões" artificialmente com subsidios, mas isso já acontece com um programa da Agência de Inovação . Talvez então se acabassemos com a regulação excessiva do programa que apenas servirá em muitos casos para dar poder de mercado a quem não participa no mercado, por exemplo não impôr prazos às firmas, exigir-lhes apenas que apresentem uma proposta de emprego clara e não uma candidatura e que possam cessar os termos desse contrato mediante uma compensação financeira razoavel e previamente definida. Dou uma especial importância a este ponto pois a diminuição das assimetrias de informação neste mercado apenas será conseguida no longo-prazo, através de iniciativas como as descritas no artigo e da informação que a própria inserção dos nossos "cientistas limões" revelem para o mercado. Se as firmas que arriscarem terem lá os "cientistas limões" aumentarem a sua rentabilidade e productividade o capital irá certamente ser investido nessas actividades onde a renumeração será maior.

O que tem o poder politico a dizer acerca desta noticia? Retiro o excerto do Diário de Noticias para que não fiquem nenhumas dúvidas - "Apesar do sinal desencorajador que a falta de comparência das empresas na iniciativa da ABIC constitui, a leitura do ministro da Ciência sobre esta realidade é optimista: "Há algo que está a mudar aí", garante. E refere como indicador positivo a adesão de duas dezenas de empresas portuguesas em vários sectores da indústria aos programas no âmbito dos acordos com o MIT e Carnegie Mellon - que lhes exige a duplicação de actividades de I&D, o aumento de registo de patentes e de contratação de um determinado número de doutorados. " - Concordo com o Ministro quando refere que algo está a mudar por ai, no entanto julgo que não na dimensão necessária para nos colocar numa situação razoavel em termos de crescimento económico e discordo que o mega acordo do Governo com o MIT seja algo de novo. Aliás durante este último século temos vindo a ter vários mega-empreendimentos públicos/privados que nem sempre têm alcançado os seus objectivos. Basta olharmos para o Porto de Sines e para a sua história para nos apercebermos que a dimensão e o optimismo por vezes de nada valem na economia real. Sinto no entanto que esta resposta transporta algo de perverso em si, pois estes chavões têm vindo a ser frequentes por parte do poder politico quando se trata de lidar com questões incómodas.



*Escrevo sempre cientistas entre parentesis pois julgo que o termo não se aplica à generalidade dos pós graduados. A palavra cientista acarreta algo de romântico que deverá ficar reservado para individuos como Chester Carlson que inventou o processo da electro-fotografia durante várias experiências quimicas que efectuava no seu apartamento.

Monday, November 13, 2006

Apresentação

Olá,

Sou um aluno de Mestrado em Economia que decidiu desenvolver uma página acerca da actualidade económica, com recursos vários para economistas e futuros economistas.

O objectivo do Economia é produzir conteúdos relevantes acerca da actualidade bem como disponibilizar ligações para uma vasta gama de recursos na área. Neste momento encontro-me sozinho a desenvolver este projecto, portanto é natural que por vezes existam algumas lacunas, bem como alguma tendencia para enviesar os recursos para as minhas áreas de investigação, a econometria aplicada e o crescimento económico de longo prazo. Desta forma deixo aqui a sugestão para os interessados em sugerirem alguma colaboração no desenvolvimento de conteudos para o fazerem em comentário ou de preferência para o mail da página - econpt@gmail.com .