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Thursday, November 16, 2006

Será o mercado de trabalho para "cientistas"* em Portugal um mercado de "limões"





Na passada segunda feira um artigo do Diário de Noticias chamou-me a atenção em particular. Esse artigo com o titulo - Feira de emprego cancelada por falta de comparência das empresas - descrevia o cancelamento de uma feira de emprego para pós-graduados organizada pela Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), por falta de respostas e interesse por parte das mais de 100 empresas contactadas. Numa fase em que o discurso acerca da importância da I&D na competitividade do sector privado se encontra generalizado pelos mais diversos circulos e meios, não pude deixar de pensar se a razão deste acontecimento não poderá ser explicado pelas ideias contidas no artigo que garantiu o Prémio nobel de 2001 a George Akerlof, "The market for "lemons": Quality uncertainty and the market mechanism".

O mercado descrito por Akerlof no seu artigo é um mercado de carros usados onde a existência de assimetrias de informação acerca da qualidade dos carros pode em determinadas circunstâncias levar a um mercado onde não existam transacções. O problema deste mercado é que apenas os vendedores conhecem o verdadeiro valor do produto e não estão dispostos a vender abaixo desse preço, enquanto os compradores não têm informação acerca da real qualidade do carro usado, tal como sucede com os limões, e acham que podem estar a ser enganados pelo vendedor. Assim os compradores oferecem sempre um preço abaixo do real valor, apenas conhecido pelo vendedor, mas este por esse preço não está disposto a transaccionar o carro. Será que se passa um fenómeno semelhante no mercado para "cientistas" em Portugal?

Antes de me referir à questão do parágrafo anterior acho importante referir o que eu acho que um "cientista" pode contribuir para uma firma privada. Em primeiro lugar é de referir que contribui como um qualquer trabalhador, ou seja em termos teóricos terá associada uma productividade marginal ao seu trabalho. Em segundo lugar podemos considerar que por possuir mais elevadas competências técnicas, que um trabalhador não "cientista", pode contribuir nas mais diversas áreas com maior eficácia para o aumento da rentabilidade e/ou productividade agregada da empresa. Por outras palavras o "cientista" apenas se distingue do trabalhador comum por o seu trabalho estar em geral mais ligado à performance agregada da firma e não tanto a tarefas do dia a dia. Um simples exemplo poderá ser um "cientista" que esteja dedicado um ano inteiro ao desenvolvimento de um produto que acaba por ser lider de mercado nos 5 anos seguintes. Se observarmos a produtividade deste individuo, ela será muito baixa no primeiro ano mas bastante alta ao longo desses 6 anos. É aqui que se encontra o problema, devido à necessidade de um periodo temporal tão alargado para aferir das capacidades do "cientista" e tendo em consideração que existe sempre incerteza no mercado e que esta aumenta à medida que observamos horizontes mais distantes, o empresário português não está disposto a comprar o "limão" que o "cientista" português lhe oferece. O empresário português perante a assimetria de informação que enfrenta não está disposto a contratar mais "cientistas limões" aos preços de mercado actuais.

Sendo generalizada pela sociedade a necessidade de aumentar a competetividade da nossa economia através da I&D (ainda bem que assim é porque a alternativa era sermos muito pobres mas competitivos) e que a inserção de "cientistas" no sector privado é fundamental, para não dizer o pilar dessa estratégia, o que se poderia fazer para pôr este mercado de "limões" a funcionar? No curto prazo poderiamos baixar o preço dos nossos "cientistas limões" artificialmente com subsidios, mas isso já acontece com um programa da Agência de Inovação . Talvez então se acabassemos com a regulação excessiva do programa que apenas servirá em muitos casos para dar poder de mercado a quem não participa no mercado, por exemplo não impôr prazos às firmas, exigir-lhes apenas que apresentem uma proposta de emprego clara e não uma candidatura e que possam cessar os termos desse contrato mediante uma compensação financeira razoavel e previamente definida. Dou uma especial importância a este ponto pois a diminuição das assimetrias de informação neste mercado apenas será conseguida no longo-prazo, através de iniciativas como as descritas no artigo e da informação que a própria inserção dos nossos "cientistas limões" revelem para o mercado. Se as firmas que arriscarem terem lá os "cientistas limões" aumentarem a sua rentabilidade e productividade o capital irá certamente ser investido nessas actividades onde a renumeração será maior.

O que tem o poder politico a dizer acerca desta noticia? Retiro o excerto do Diário de Noticias para que não fiquem nenhumas dúvidas - "Apesar do sinal desencorajador que a falta de comparência das empresas na iniciativa da ABIC constitui, a leitura do ministro da Ciência sobre esta realidade é optimista: "Há algo que está a mudar aí", garante. E refere como indicador positivo a adesão de duas dezenas de empresas portuguesas em vários sectores da indústria aos programas no âmbito dos acordos com o MIT e Carnegie Mellon - que lhes exige a duplicação de actividades de I&D, o aumento de registo de patentes e de contratação de um determinado número de doutorados. " - Concordo com o Ministro quando refere que algo está a mudar por ai, no entanto julgo que não na dimensão necessária para nos colocar numa situação razoavel em termos de crescimento económico e discordo que o mega acordo do Governo com o MIT seja algo de novo. Aliás durante este último século temos vindo a ter vários mega-empreendimentos públicos/privados que nem sempre têm alcançado os seus objectivos. Basta olharmos para o Porto de Sines e para a sua história para nos apercebermos que a dimensão e o optimismo por vezes de nada valem na economia real. Sinto no entanto que esta resposta transporta algo de perverso em si, pois estes chavões têm vindo a ser frequentes por parte do poder politico quando se trata de lidar com questões incómodas.



*Escrevo sempre cientistas entre parentesis pois julgo que o termo não se aplica à generalidade dos pós graduados. A palavra cientista acarreta algo de romântico que deverá ficar reservado para individuos como Chester Carlson que inventou o processo da electro-fotografia durante várias experiências quimicas que efectuava no seu apartamento.

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