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Tuesday, July 10, 2007

Politica Económica num Mundo Globalizado

Estes dois livros de Joseph Stiglitz, Globalização a Grande Desilusão e Os Loucos Anos 90, seguem aqui na secção de Book Review como verdadeiros gémeos que devem ser lidos em conjunto.

Joseph Stiglitz não é um economista qualquer, com uma carreira académica fulgurante que começou durante os anos 60 e ainda continua activa, onde se inclui um prémio Nobel em 2001 em conjunto com George Akerlof e Michael Spence, que premiou o trabalho destes académicos na análise de mercados com informação assimétrica, vários doutoramentos honoris causa concedidos por universidades de todo o mundo entre outras distinções. Joseph Stiglitz é com o devido mérito considerado como um dos maiores economistas vivos da nossa época. Estes dois livros não são no entanto pesados volumes académicos mas sim textos dirigidos ao comum dos mortais que se interesse pelo tema da politica económica moderna, tendo a possibilidade nestes dois livros de conhecer os pontos de vista de um economista que durante a década de 90 foi membro do conselho económico da administração Clinton e economista chefe do Banco Mundial.

Antes de falar dos textos em si gostava de deixar uma palavra em relação às versões Portuguesas do texto. No global as traduções são boas, com uma ou outra gralha não significante para o conjunto, no entanto, o título escolhido para o texto Globalização a Grande Desilusão não é de certeza o mais feliz. Fica aqui o meu reparo ao editor por não ter considerado que este titulo é uma tradução errada para Globalization and its Discontents. Em relação ao outro texto, Os Loucos Anos 90, este titulo deve ser entendido como uma analogia à década de 20 nos EUA. Na minha perspectiva existe um duplo sentido na expressão Roaring Nineties utilizada por Stiglitz, pois pretende referir-se a algo que apesar de fazer muito barulho não reflecte essa propriedade em velocidade ou resistência, existem vários carros e máquinas que possuem claramente as mesmas características.

Em todo o trabalho de Stiglitz existe sem dúvida uma frase por ele proferida que define não só o seu papel de conselheiro económico nestas instituições durante este período, como também as suas opiniões acerca do que se passou de melhor ou pior durante a década de 90: "Nos mercados quem ganha não são aqueles que são mais competitivos mas sim aqueles que possuem mais e melhor informação". Esta afirmação refere-se sobretudo aos problemas das remunerações dos CEO baseadas em stock options que ainda hoje são consideradas como responsáveis, em parte, pelas crises financeiras do final e inicio do século. Incentivos provocam reacções e maus incentivos provocam más reacções. Se adicionarmos assimetrias de informação a este cenário então poderemos ter verdadeiras receitas de desastre. O maior exemplo de todos os tempos destes problemas é o colapso da Enron, no entanto não é o único nos tempos modernos.

Começar esta abordagem pelos Loucos Anos 90 permite a mim como também ao futuro leitor seguir uma linha cronológica bem definida. Stiglitz começa não pela descrição da sua experiência como conselheiro durante o milagre dos anos 90, mas 10 anos antes com algumas ideias polémicas. No inicio dos anos 80 estávamos muito longe do milagre económico e a politica nos EUA estava centrada no controlo da inflação. Neste período especifico as ideias do monetarismo técnico dominavam a política económica e monetária e preconizavam um aumento das taxas de juro em resposta ao aumento da massa monetária. Apesar destas teorias terem sido abandonadas os seus custos na actividade económica e emprego foram bastante grandes. Stiglitz, muito perto das ideias da escola austríaca, considera que nesta crise estavam as sementes da expansão que mais tarde foram despoletadas pela politica de contenção orçamental da administração Clinton. Um argumento um pouco estranho para um assumido neo-keynesiano mas de fácil interpretação. A politica monetária excessivamente restritiva tinha destruído a velha economia e tinha dado espaço à nova economia de se começar a implantar. Além disso destruiu também as velhas ideias nacionalistas no terceiro mundo (de esquerda ou direita) através da crise de dívida externa provocada pelo aumento das taxas de juro dos contratos denominados em dólares. Isto abriu o caminho para uma maior interdependência comercial e financeira que mais tarde ficou conhecida como globalização. Porque foi o controlo do défice dos EUA importante para este desfecho? Porque parou os efeitos de crowding-out despoletados pela politica de divida excessiva das administrações republicanas. Stiglitz aborda este tema pormenorizadamente no inicio de os Loucos Anos 90 e define-o como o inicio do turbo-capitalismo liderado pelo capital financeiro, o primeiro sector a globalizar-se.

Durante o restante texto Stiglitz refere-se aos desafios de politica económica e à difícil coabitação entre as diversas instituições que dominam a politica económica dos EUA. Entre os temas abordados encontram-se as dificuldades de alinhamento entre a política fiscal e monetária devido às diferentes perspectivas entre o FED e a administração e inclusive as perspectivas do Departamento do Tesouro e do seu braço internacional o FMI em relação à condução dessas politicas. Incentivos, assimetrias de informação e diferentes visões da economia marcaram esta época de inegável sucesso, mas segundo Stiglitz continham em si as sementes da destruição que se seguiu. Para Stiglitz o excessivo ênfase nas virtudes dos mercados e a solução clássica de desregulação provocaram as crises financeiras e de energia tão sobejamente conhecidas. Nesta altura já Stiglitz era economista chefe do Banco Mundial e a economia tinha-se definitivamente globalizado, seguindo um percurso que se antevia imparável.

No livro a Globalização a Grande Desilusão, Stiglitz aborda o período que passou como economista chefe do Banco Mundial, que ao contrário do seu emprego anterior não se revelou tão simpático em termos de resultados e reconhecimento. Todos nos recordamos da crise financeira Asiática em 97 e da crise financeira Russa em 98, Stiglitz fala destes acontecimentos como um verdadeiro insider man nas estruturas do capitalismo financeiro mundial. Ao longo de todo o livro algumas das ideias fundamentais são, por exemplo, a critica à chamada politica do consenso de Washington e uma acusação aberta à politica seguida pelo FMI durante as crises de balança de pagamentos. Stiglitz demonstra, e não é o único, como a FMI segue uma política de defesa das grandes instituições financeiras ocidentais durante as crises financeiras no mundo em desenvolvimento, permitindo com as suas propostas o surgimento de condições de arbitragem que permitem aos especuladores cambiais destruírem uma economia em poucos dias. Estas criticas acabaram por valer a Stiglitz a perca do seu lugar no Banco Mundial e um conjunto de criticas que no geral são de todo não merecidas.

Apesar de já se ter passado algum tempo em relação aos acontecimentos descritos por Joseph Stiglitz nos seus livros, nem todos os assuntos abordados perderam a sua actualidade. Por serem bastante fáceis de seguir e por serem dois volumes de dimensões razoáveis, os dois livros de Joseph Stiglitz são uma excelente sugestão para os finais de tarde na esplanada da praia para todos aqueles que estejam interessados nestes temas.

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