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Saturday, June 30, 2007

Galardoados Nobel: Da rejeição inicial ao reconhecimento

A rejeição inicial pelos nossos pares não significa que o nosso trabalho cientifico não tenha mérito e mais tarde não chegue a ser um trabalho seminal. O blog Eclect Economist discute este assunto neste pequeno post e apresenta um link para uma página onde se encontram vários artigos rejeitados inicialmente por revistas cientificas e que mais tarde valeram o prémio nobel aos seus autores.

Rejecting Nobel class papers

Globalização e Novas Tendências

Num excelente post no blog New Economist é discutido se a opinião pública e académica em relação à globalização começa a mudar num sentido de se aplicarem várias reformas ao sistema económico global.

Os assuntos debatidos variam desde programas de redistribuição de rendimento, uma politica fiscal global e apoios aqueles que efectivamente têm perdido com a abertura dos mercados. Com várias referências e já uma discussão aberta em comentário este é sem dúvida um assunto a seguir:

Globalisation - has the tide of opinion turned?

Thursday, June 28, 2007

Portugal: um ajustamento dificil ao Euro

Os problemas de crescimento económico que Portugal tem enfrentado durante o início do século XXI são, em parte, resultado do desajustamento macroeconómico que tem existido desde a entrada em vigor do Euro. Desde esse momento que a politica monetária deixou de ser uma opção para produzir ajustamentos rápidos na competitividade industrial. Quais os principais problemas e quais as possíveis soluções neste enquadramento?

Ainda sem tempo para abordar estas questões aqui no Economia, deixo um artigo de Olivier Blanchard originalmente apresentado na conferência de Primavera do Banco de Portugal de 2006 que tenta abordar estas duas questões. Este artigo apesar de ser um working paper de um académico é ainda assim um artigo fácil de ler, onde o autor tenta abordar o tema com a ajuda de vários indicadores estatísticos e com isso responder às questões colocadas no parágrafo anterior.

-Adjustment within the Euro. The Difficult Case of Portugal

The Century of the Self (ep.2 of 4)

Segunda parte do documentário "The Century of the Self" de Adam Curtis que aborda a influência das ideias da Sigmund Freud na psicologia, política, marketing e relações públicas no século XX.



Wednesday, June 27, 2007

Flexigurança: Reforma ou Manta de Retalhos

Finalmente, começam a surgir algumas "luzes" acerca da reforma do código laboral há tanto tempo prometidas. Como sempre este governo antes de apresentar um pacote preliminar completo de medidas coloca alguns teasers na comunicação social para observar as reacções.

Os responsáveis por estes teasers são também os responsáveis pela elaboração do chamado livro branco das relações laborais. Uma comissão que é suposta avaliar e propor medidas de legislação laboral, que como todas as outras comissões promovidas por este Governo apresenta umas medidas avulsas acerca do assunto em si, de forma a observar as reacções. Como tudo isto ainda é muito nebuloso e as experiências actuais que se vão passando no Ministério da Saúde apontam para uma canibalização da política e reformas em beneficio da promoção de um conjunto de medidas ao belo estilo das mantas de retalhos, que sem nexo nem objectivos se vão tornando medidas reais, não acho que seja oportuna fazer ainda muitos prognósticos. Como não possuo nenhum elemento que possa verificar o que ai vêm deixo não a critica às propostas mas sim a esta forma de fazer política que promove a incerteza e canibaliza o debate. Algumas das supostas futuras propostas podem ser encontradas em dois pequenos artigos do DN e JN.

Há alguns anos o debate acerca da política fiscal apontava para a necessidade de reduzir o IRC. Em conversas com vários economistas e contabilistas acabei por chegar à conclusão que num clima de incerteza e estagnação a descida da taxa real de IRC em 1% a 2% acabaria por ser reflectida apenas num aumento das provisões das firmas em detrimento do investimento. Um choque na oferta limitado iria ser usado como um mecanismo de redução do risco pelas firmas e não iria contribuir para o aumento investimento e da oferta. Essas ideias na altura não se demonstraram erradas. O problema era de competitividade e do lado da procura, medidas puramente do lado da oferta não teriam efeitos significativos. A política fiscal não era um instrumento viável. Tendo em conta as medidas preliminares propostas para revisão do código do trabalho sinto que caminhamos no mesmo sentido.

Nos dois artigos que revelam algumas das intenções futuras julgo que caminhamos em direcção aos mesmo erros. Parece haver um objectivo claro nestas novas medidas de transferir poder de mercado do lado dos trabalhadores para o lado das firmas não se apresentando nenhuma medida que aponte para a diminuição dos custos de contratação e segurança social das firmas num contexto intertemporal. Uma política limitada deste tipo poderá ter o mesmo efeito que a redução do IRC em tempos teve. As firmas podem usa-la para obter maior liquidez financeira num mercado pouco mais que estagnado. A perca de poder dos trabalhadores aliada à inovação tecnológica, sem uma evolução favorável da procura que expanda a dimensão do mercado, pode mesmo levar a um aumento do desemprego. Desemprego esse na minha opinião desnecessário, pois apenas existe devido ao excedente excessivo retirado pelo Estado à economia privada sem o respectivo retorno em protecção.

Trabalhadores com mais incerteza e sem uma protecção social adequada terão uma propensão a consumir menor, contribuindo assim para a redução da procura e limitando o crescimento da economia ao crescimento do sector de bens transaccionáveis. Este é um efeito perverso deste tipo de política pois não contribui para a competitividade do sector exportador mas sim transfere custos de segurança social do Estado e empresas para os trabalhadores. Reformar o código do trabalho contra a criação de emprego e a competitividade pode ser um erro tão fatal como foram as expansões fiscais promovidas pelos governos de António Guterres e de Pedro Santana Lopes. O objectivo desta reforma não se pode limitar a esta transferência de custos entre agentes de mercado mas sim promover o emprego economicamente racional e a reestruturação económica e tecnológica do sector produtivo. O excedente para cumprir estes objectivos encontra-se na posse do agente de mercado mais ineficiente, o Estado, seja sobre a forma de limitação de receitas ou diminuição de despesas e programas excessivamente distorcionários que existem hoje no mercado de trabalho.

Tuesday, June 26, 2007

Recursos, Recursos e ainda mais Recursos...

Na continua busca do Economia para encontrar mais e melhores recursos para investigadores e estudantes de economia deparei-me com uma página dedicada a estudantes de doutoramento, com diversas dicas e material para quem está a iniciar este percurso. Esta página de nome Econphd foi já carregada na barra esquerda na categoria de economia em geral.

Podemos encontrar nesta página desde referências à bibliografia essencial, livros de instruções de como publicar com sucesso artigos em revistas cientificas e conselhos para candidaturas a cursos de doutoramento. Estes manuais além do seu interesse especifico não se limitam a ser um conjunto de dicas óbvias mas autênticos fact books cuja informação pretende ser a mais pormenorizada possível.

Além de todos estes recursos esta página também possui uma lista de manuais online de diversos docentes. Muitos destes manuais são autênticos livros de texto por publicar tal a sua extensão e pormenor. Organizados em quatro grandes grupos específicos, microeconomia, macroeconomia, economia matemática e econometria existem depois vários sub-grupos mais específicos com os diversos links para os textos ou páginas destes docentes. O link directo para esta página pode ser encontrado em baixo:

- Lecture Notes Online from Econphd

Monday, June 25, 2007

The Century of the Self (ep. 1 of 4)

O economia continua a sua apresentação do trabalho do realizador inglês Adam Curtis agora com a série "The Century of the Self". Esta série tenta demonstrar como as ideias de Sigmund Freud foram fundamentais durante todo o século 20, discutindo as suas implicações e aplicações, por políticos, homens de negócios e marketeers. Este primeiro episódio aborda a vida e o trabalho do sobrinho americano de Sigmund Freud, Edward Bernays, o fundador do marketing e relações públicas modernos. Um homem com uma notoriedade reduzida mas que ajudou a moldar o mundo moderno à sua maneira.

"This series is about how those in power have used Freud's theories to try and control the dangerous crowd in an age of mass democracy." - Adam Curtis




Saturday, June 23, 2007

Biografias de Economistas Famosos - Frank Ramsey (1903-1930)

Ao decidir criar esta nova secção no Economia achei correcto prestar uma homenagem a um filósofo e matemático muitas vezes esquecido ou desconhecido fora dos meios académicos da ciência económica, Frank Plumpton Ramsey.

Matemático de formação, Frank Ramsey dividiu as suas contribuições cientificas entre a lógica e filosofia, ética e política, biologia, teoria das probabilidades, economia e obviamente a matemática. Apesar de ter morrido em 1930 vitima da icterícia com apenas 27 anos, Ramsey desde cedo demonstrou a sua precocidade para abordar problemas complexos em várias ciências, interessando-se não só pelas questões filosóficas mas também pela aplicação de uma abordagem matemática às diversas questões cientificas. Incentivado por John Maynard Keynes, um dos seus mentores, a abordar a ciência económica (julga-se que desde os seus 16 anos), Ramsey desde logo demonstrou a sua genialidade discordando com o famoso economista inglês em questões fundamentais para a filosofia económica e contribuindo de forma decisiva para a economia moderna. Muitas destas contribuições só mais tarde, décadas em certos casos, foram assumidas como decisivas. A razão principal para isso deve-se certamente à sua morte precoce e à sua abordagem inovadora que só mais tarde foi compreendida e aceite na sua totalidade.

Entre os seus vários contributos para a economia existem três que podem ser considerados decisivos. Em primeiro lugar e talvez a mais ignorada, encontra-se a sua critica a Keynes em relação à teoria das probabilidades. Keynes assumia que na presença de informação perfeita as probabilidades deveriam no limite ser determinísticas. Ramsey discordou afirmando que as probabilidades seriam subjectivas e dependeriam das crenças individuais especificas. Esta proposta abriu o caminho para a conhecida teoria das escolhas subjectivas em conceito de incerteza, ou teoria do risco, e a teoria dos jogos, onde as suas ideias seriam mais tarde fundamentais para o trabalho de John von Neumann, Oskar Morgenstern e mais tarde John Nash. Ramsey no entanto sempre recusou estender as suas ideias acerca da probabilidade à física, alegando que nestes casos algo mais que a subjectividade teria de estar em causa.

Frank Ramsey também foi o pai da teoria do crescimento económico moderno com a sua teoria matemática da poupança ou também conhecida como a teoria do crescimento óptimo. As ideias de Ramsey são ainda a base de toda a teoria neo-clássica do crescimento económico, sendo o seu trabalho em certa medida mais completo que aquele que valeu o prémio Nobel da economia a Robert Sollow (isto é uma opinião pessoal e de qualquer forma o trabalho de Sollow não deixa de ser um dos contributos mais decisivos na teoria do crescimento económico). Esta é uma das histórias curiosas da economia, pois o trabalho de Ramsey ficou literalmente esquecido durante cerca de quase quatro décadas, sendo mais tarde confirmado por Tjalling Koopmans e David Cass naquele que ficaria conhecido como o modelo de Ramsey-Cass-Koopmans no final da década de 1960. A razão para este esquecimento deve-se ao método matemático usado por Ramsey. Na sua época os problemas matemáticos dinâmicos eram resolvidos através do método conhecido como cálculo varacional, apenas mais tarde com a publicação do trabalho dos matemáticos russos liderados por Lev Pontryagin em finais da década de 1950, acerca das condições necessárias para a obtenção de óptimos dinâmicos, conhecida como a teoria do controlo óptimo, pôde o trabalho de Ramsey ser confirmado. Apesar de estar limitada na sua abordagem matemática, os resultados de Ramsey aguentaram esse duro teste e mantiveram-se até hoje, servindo a metodologia do controlo óptimo apenas para os confirmar.

Na "Contribuição para a teoria da taxação", Ramsey aborda qual será a a politica óptima de taxação num contexto de ausência de qualquer motivação de equidade e redistribuição. Discuto alguns dos seus resultados aqui. Apesar de muito criticado pelas mesmas razões que basearam as suas ideias, os resultados de Ramsey continuam a ser robustos ainda hoje, mesmo num contexto dinâmico, apesar de se basearem num modelo estático no tempo.

Por ter sido um dos maiores cientistas do século XX apesar de geralmente ser apenas conhecido no meio académico, muito provavelmente não fosse a sua morte precoce e Frank Ramsey hoje seria conhecido pelo público em geral, o Economia deixa aqui a sua homenagem a Frank Ramsey.

Thursday, June 21, 2007

Exemplo para simulação de problemas de valor inicial em sistemas dinâmicos

De forma a terminar o tema da simulação de problemas de valor inicial em sistemas dinâmicos, iniciado com a apresentação do software de John Polking, descrito neste post, e a apresentação de um script genérico para Matlab com o objectivo de permitir uma melhor parametrização, apresentado neste post, venho aqui apresentar uma aplicação especifica baseada num modelo de crescimento endógeno com transições que desenvolvi para o meu projecto de dissertação, "Endogenous Growth in a Small Open Economy: Optimal Fiscal Policy and the Informal Sector".

Os detalhes para este modelo ainda não são disponibilizados, desta forma pode-se considerar que esta aplicação parte ainda de uma "caixa negra" que ainda não foi formalmente apresentada. A razão para esta opção deve-se ao necessário período de peer-review que estes abordagens da economia matemática necessitam antes de se avançar para uma apresentação formal. No entanto, posso garantir que toda a abordagem analítica efectuada sustenta os resultados numéricos apresentados e está de acordo com a abordagem na literatura acerca de modelos de crescimento endógeno com transições. Livros de texto como o Economic Growth, de Xavier Sala-i-Martin e Robert Barro discutem este assunto em termos analíticos com algum detalhe (não deixo aqui uma referência mais especifica para o livro porque existem diversas versões e edições disponíveis).

O documento com o modelo de transições, parametrização numérica e resultados das simulações a partir do software de John Polking para MATLAB e do simulador genérico para problemas de valor inicial de minha autoria para MATLAB estão disponíveis para download em baixo. Deixo também aqui o script especifico utilizado para este modelo, para quem quiser experimentar ou tirar dúvidas em relação ao script genérico que apresentei anteriormente.

Click to download (pdf format): Example_simulation_transition_initvalue
Click to download (m-file format): Convergence_initvalue

Wednesday, June 20, 2007

Simulador genérico em MATLAB para sistemas de ODE

Depois da apresentação dos programas para MATLAB, disponibilizados online por John Polking, para simulação e análise de problemas de valor inicial de sistemas dinâmicos de equações diferenciais ordinárias (ODE), deixo aqui um m-file genérico para simular o mesmo tipo de problemas.

A utilização de um m-file construído de raiz para a resolução deste tipo de problemas tem a vantagem de permitir uma completa parametrização e controlo do output para simulações mais complexas de problemas em tempo continuo. Além disso, é possível também obter a transição no tempo de outras variáveis compostas por combinações de variáveis e parâmetros, o que não é possível de fazer usando os programas disponibilizados por John Polking.

Não pretendo no entanto substituir com este script genérico para MATLAB nenhum dos programas referidos, apenas pretendo disponibilizar um script fácil de personalizar para utilizadores iniciados em MATLAB que pretendam desenvolver capacidades de simulação de sistemas dinâmicos em tempo continuo, através da utilização de simulações numéricas matemáticas. Aliás, como já tinha referido antes, julgo que a utilização de programas como o de John Polking em conjunto com scripts personalizados favorece a investigação e permite que a parametrização do script especifico seja mais rápida, pois permite observar alguns problemas que surgem antes de se começar a programar e experimentar. Isto não só permite reduzir o tempo empregue na construção de simuladores como também melhorar a qualidade das simulações.

Deixo aqui então o link para download do script genérico em MATLAB com instruções precisas para a parametrização. O ficheiro encontra-se já no formatom m-file para MATLAB.

Click to Download (m-file format): Generic ODE Initial Value Simulator
Click to Download (text format): Generic ODE Initial Value Simulator

Uma aplicação que usa o software de John Polking e o simulador genérico para MATLAB num modelo de crescimento endógeno com transições para análise numérica pode ser encontrado aqui:

Exemplo para simulação de problemas de valor inicial em sistemas dinâmicos

Tuesday, June 19, 2007

I like it OTA, OTA!!!!!! I like it... OTA...

Mário Lino parece seguir impávido e sereno o seu crash course em direcção ao aeroporto da OTA entre contradições, gaffes e declarações despropositadas a seguir ao almoço, como é habitual em muitos políticos.

Vejamos os últimos acontecimentos. Depois de Rui Moreira ter denunciado um possível conluio para a escolha dos patrocinadores da opção Alcochete, o ministério que Mário Lino lidera veio desmentir em comunicado oficial essa hipótese, para no dia seguinte dizer que estava disposto a analisar a proposta da Portela mais um, que pelos vistos será financiada pelos tais "possíveis" excluídos (Associação Comercial do Porto) do estudo de alternativas à OTA, "possivelmente" negociado entre o governo e a CIP.

Como o crash course de Mário Lino em direcção à OTA é um caminho mais estreito que muitos julgam, hoje surge com a impressionante declaração que a opção Portela mais um é na sua opinião uma opção inviável em termos operacionais e financeiros. No entanto reafirma a sua intenção de a analisar e avaliar esta possibilidade. Ou seja, Mário Lino diz que está disposto a perder o tempo e dinheiro dos contribuintes numa opção que ele não considera como viável e interessante. Qual será objectivo de tal análise se já decidiu noutro sentido? De qualquer forma não atribuo muita importância a estas incoerências e contradições continuadas pois considero que devem ter sido resultado de um almoço qualquer e sei que com o tempo a memória começa a falhar a todos e especialmente a alguns a seguir ao almoço.

Assim deixo aqui um pedido ao Sr. Mário Lino. Avalie todas as hipóteses razoáveis que têm sido apresentadas, mas faça-o antes de almoço como fez quando optou por construir a OTA. Ou seja, antes de se referir à OTA como o seu projecto pessoal, para depois dizer que este já era um projecto do anterior governo PSD e entretanto referir que era a opção viável tendo em conta o deserto que existe na margem sul Tejo. Antes dessa fase Sr. Ministro, se me entende, é que já nem eu me consigo recordar de tudo o que disse, tal é a velocidade com que profere declarações contraditórias.

David Landes em entrevista à TSF

Ainda na continuação do review do livro de David Landes "A riqueza e a pobreza das Nações- Por que são algumas tão ricas e outras tão pobres" no Economia, deixo aqui uma entrevista online de David Landes à TSF de 2003 em que o seu livro é um dos temas centrais:

David Landes em entrevista à TSF em 2003.

Monday, June 18, 2007

A Riqueza e a Pobreza das Nações

Porque são algumas nações tão ricas e outras tão pobres é a questão que David Landes pretende responder no seu livro "A riqueza e a pobreza das nações". Obviamente esta tarefa titânica apenas é abordada em parte, pois a vastidão do assunto e diversidade das opiniões não podiam ser discutidas na sua totalidade em apenas um livro.

Apesar destas limitações Landes não se deixa impressionar e, numa autentica revisão da história económica moderna mundial, tenta apresentar os vários casos de sucesso e fracasso económico que ocorreram ao longo destes últimos cerca de 700 anos com um especial ênfase para os últimos 300 a 500 anos. A abordagem escolhida para realizar este esforço gigantesco é uma introdução com algumas ideias específicas e um cruzar de casos que se podem dividir em três grupos, nações, impérios e continentes ou sub-continentes. Apesar de parecer um pouco confusa esta abordagem, a principal intenção é a de afirmar as suas ideias, geralmente baseadas num pragamatismo neo-clássico institucionalista, em relação ao desenvolvimento e crescimento económico, as suas bases e causas. O autor pretende ainda demonstrar como esses fenómenos ao longo do tempo provocaram choques entre civilizações e como essa interligação não só produziu resultados como foi fundamental para determinar a hierarquia das nações que hoje vigora. Em suma, só podemos compreender o verdadeiro objecto da obra de Landes depois de a lermos na totalidade e digerirmos a quantidade impressionante de informação que esta contém. Acreditem que não é fácil terminar as cerca de 700 páginas da edição portuguesa e ao mesmo tempo seguir as inúmeras e detalhadas referências que cada capitulo contém e que são fundamentais para a compreensão da visão de David Landes.

Esta visão muita especifica de Landes caracteriza-se, como já tinha referido, por um pragmatismo neo-clássico institucionalista, que vai buscar ao baú do politicamente incorrecto algumas ideias polémicas como a geografia económica da primeira metade do século 20 e o eurocentrismo. Estas ideias custaram a carreira a muitos investigadores no passado devido ao revisionismo anti-imperialista que varreu as ciências sociais a dada altura. David Landes não foge das suas convicções mas também não se refugia no determinismo que estas ideias em tempos se basearam. Ele tenta enquadra-las na sua tese e tenta mostrar ao longo do livro como estas ideias muitas vezes ligadas a uma certa superioridade civilizacional foram fundamentais para o desenrolar da história e para o seu impacto na economia. Uma boa forma de resumir as suas ideias e o seu descomprometimento com as diversas correntes da história é a sua retórica em relação ao eurocentrismo. Porque não deverá ser a história do sucesso económico eurocêntrica se a Europa foi a região que mais progrediu e influenciou o mundo nos últimos 500 anos? A base para este critério está nas suas ideias neo-clássicas e institucionalistas. Os mercados são fundamentais mas só num estado de direito e de alguma forma liberal. A politica, instituições e cultura acabam por se sobrepor no fundamental à economia mesmo que por vezes pareça o contrário. Aliás Landes aplica esta tese para explicar não só o sucesso de nações como Portugal e Inglaterra em dados momentos da História, quando o contexto geopolítico não era muito favorável. Ambas enfrentavam vizinhos mais poderosos militarmente, financeiramente e em certa medida tecnologicamente, mas Landes demonstra como o enquadramento institucional foi fundamental para triunfarem nesta situação de aparente desvantagem económica.

De forma a demonstrar as suas ideias, Landes apresenta alguns exemplos das implicações dos diferentes enquadramentos institucionais. Inglaterra é apresentada como uma nação cuja maior vantagem era a existência de um estado liberal em termos legais e económicos que permitiu à iniciativa privada liderar e desenvolver as suas actividades com racionalidade económica, em comparação com França, um país mais rico, em termos de manufactura mais avançado e com maiores recursos financeiros e agrícolas. A expressão destas diferenças vem como sempre nesta obra sob a forma de exemplos concretos, como o desenvolvimento da rede rodoviária nestes dois países. França, dominada por um poder público importante e por elites com raízes na aristocracia, construiu magnificas estradas que ligavam cidades distantes. O problema dessas estradas era não serem racionais, estavam sempre distantes das povoações e os seus custos de manutenção e segurança eram astronómicos, o que impedia uma rápida disseminação pelo território francês. Inglaterra não tinha recursos para tais obras públicas, assim tiveram que ser os empreendedores privados a promover as vias de transporte. Isto foi possível através de um sistema de exploração da propriedade privada de forma a sustentar a distribuição de produtos e baseada num sistema anárquico de caminhos e portagens. Muitas vezes estas estradas eram de péssima qualidade e tão estreitas que apenas os transportes práticos e fisicamente preparados, em oposição às luxuosas carruagens da elite francesa, conseguiam enfrentar. Além disso não existia interesse em desenvolver vias muito distantes, o próximo entreposto comercial era o suficiente, um empreendimento deveria ser o mais racional em termos de custos e principalmente chegar a algum lado. Isto permitiu desenvolver o sistema de estalagens inglesas ao longo das estradas que serviam os inúmeros viajantes que as frequentavam. Business generates business and so on.

Em relação a Portugal, e mais especificamente ao seu período áureo dos Descobrimentos, Landes demonstra como o pragmatismo económico e o enquadramento institucional público/privado foram fundamentais. Ao contrário de muitas ideias de heroísmo que existem acerca dos nossos navegadores, Landes destaca a preparação cuidadosa de todas as viagens e a partilha do risco entre o sector público e privado das actividades a desenvolver. Landes afirma que uma das razões do sucesso português foi o seu imperialismo militar moderno e global precoce. Tudo dependia da informação adquirida, negociações e empreendimentos escolhidos, e em caso de possíveis problemas disparar primeiro e fazer perguntas depois. Disparar é claro os poderosos canhões e de preferência a partir de barcos, a distância e alcance das armas e a superioridade naval eram fundamentais para a intimidação. Landes dá dois exemplos para esta lógica, em primeiro lugar a negociação do Tratado das Tordesilhas, onde existe clara evidência de um conhecimento geográfico muito superior por parte dos portugueses, um pouco à maneira dos serviços de informação modernos. Em segundo lugar, as instruções recebidas por Vasco da Gama na sua calculada viagem até à Índia. Obter informações comerciais e contratos lucrativos se possível em terra e se abordados avisar primeiro e depois disparar. Não interessava saber as intenções dos outros quando isso podia ser muito arriscado, interessava isso sim defender os nossos interesses.

Por último, neste já longa apresentação, deixo aqui para terminar duas páginas com reviews mais e/ou menos "simpáticos" acerca do livro de David Landes e a página habitual do Amazon para "A Riqueza e a Pobreza das nações":

The Wealth and Poverty of Nations: Why Some Are So Rich and Some So Poor no Amazon;

Review da página académica de Bradley Delong com vários comentários
;

Criticas no site Rise of the West.

Sunday, June 17, 2007

Domingo também é dia de revelações acerca da OTA

Rui Moreira este domingo acusou os proponentes do estudo da opção Alcochete versus OTA de conluio com o Governo. Esse conluio pretende limitar, nas palavras de Rui Moreira, o estudo de uma terceira opção possível que seria a opção Portela mais um. Além disso, Rui Moreira revela uma possível negociação para os nomes dos proponentes desse estudo em detrimento de outros que estariam interessados a dar o seu contributo para esta questão fundamental. Já me tinha referido à questão da OTA em dois posts, sendo na minha opinião a opção Portela mais um a mais racional em termos económicos.

Um resumo das acusações de Rui Moreira, mais um dos whistleblowers da OTA, podem ser encontradas neste pequeno excerto do jornal Público.

Domingo- dia de revelações autárquicas

Este domingo parece ter sido um dia de revelações autárquicas. O whistleblower português da corrupção autárquica Paulo Morais, antigo vereador do urbanismo da câmara do Porto, refere-se novamente ao tema da especulação imobiliária e a sua ligação ao financiamento partidário e ao caos urbanístico que vai assaltando as cidades portuguesas. A entrevista dada ao JN pode ser encontrada aqui e aqui. O Economia queria realçar a a coragem de Paulo Morais de continuar a chamar os "bois" pelos nomes e não nos fazer perder o tempo com insinuações e especulações como muitos supostos comentadores acabam por fazer.

Este renovar de acusações de Paulo Morais é especialmente relevante numa altura que se vai escolher o executivo camarário intercalar da CML. Já me tinha referido aos verdadeiros problemas da cidade num post anterior com o titulo: Lisboa- Lidar com o verdadeiro problema. Não gosto de me referir às causas da desgraça urbanística, apesar de elas serem óbvias, pois não possuo provas que confirmem as minhas especulações. Assim, dedico-me como economista a discutir os efeitos e consequências das opções que são tomadas, como o fiz nesse post.

Na sequência da campanha autárquica para a CML, domingo também tem sido um dia de revelações. Já tinha expressado as minhas dúvidas acerca do programa do candidato socialista, António Costa, para a CML. Nesse post ataquei a propaganda por correio deste candidato como demagógica e coloquei uma série de perguntas acerca das suas verdadeiras intenções. Hoje em noticia no público, aqui, parte das minhas dúvidas ficaram esclarecidas e começo a ter certezas que o próximo poder autárquico em Lisboa não vai ser nada diferente dos anteriores.

Afinal todas aquelas "coisas bonitas" a que António Costa se referia na sua propaganda foram ultrapassadas pela necessidade de pôr uns projectos imobiliários a avançar já nos próximos tempos. Tal como a noticia refere, a candidatura de António Costa vê como prioritários dois projectos de pura especulação imobiliária. O primeiro refere-se à ocupação do antigo parque industrial de Braço de Prata com um empreendimento de luxo e a segunda a uma torre na zona de Santos com 110 metros de altura. Novamente deixo aqui as minhas interrogações acerca da validade destes projectos e pergunto: Para quando um parque industrial high tech na cidade? Provavelmente quando todas as antigas zonas industriais tiverem sido alvo da especulação imobiliária. Porque não dar condições à iniciativa privada para reabilitar a zona urbana do Cais Sodré- Santos em vez de se construir um complexo comercial com uma torre de 110 metros de altura? Esta zona está praticamente desabitada e é uma antiga zona de armazéns onde lojas e negócios variados se poderiam instalar com custos relativamente baixos e a única coisa que trava este processo é a conhecida burocracia autárquica. Adivinham-se mais programas de reabilitação urbana pública para viabilizar estes projectos de especulação urbana e imobiliária.

Para uma apresentação mais completa dos novos empreendimentos propostos pela candidatura socialista à CML deixo aqui em os seguintes artigos:

Renzo Piano Braço de Prata Housing Complex no blog- A Barriga de um Arquitecto;

Apresentação do projecto de Norman Foster no DN de 7-12-04;

Discussão do projecto de Norman Foster no DN de 3-3-07.

Saturday, June 16, 2007

The Trap: What happened to our dream of freedom (ep.3 of 3)

Terceiro e último episódio do documentário de Adam Curtis sobre o impacto da teoria dos jogos nas ciências sociais e o seu reflexo na sociedade ocidental nas últimas três décadas. Primeiro e segundo episódio encontram-se aqui.

-The Trap: What happened to our dream of freedom (ep.3 of 3)

Desta vez deixo aqui o link aqui para uma playlist num blog com o mesmo nome da série porque não consegui encontrar o video completo do 3º episódio no google video.

Friday, June 15, 2007

Benfica: OPA ou especulação

Um dia fabuloso este para a bolsa de Lisboa, em que uma OPA improvável foi lançada sobre a SAD do Benfica. Bem na realidade foi apenas uma OPA sobre parte do capital, mais concretamente as acções tipo B, que não garantem o controlo de gestão da SAD.

Adicionalmente, tivemos uma parada de afirmações em todos os órgãos de comunicação social, que foram desde o comprador afirmar que quer ajudar mas não quer controlar e que faz isto porque alguém anda a prejudicar o Benfica. Enquanto do lado da administração da SAD se ouviam as habituais histórias de como esta OPA era o resultado do valor do Benfica ser reconhecido pelos investidores.

Comecemos por partes. Quem quer prejudicar o Benfica nas palavras do Sr. Berardo através da baixa do valor das acções? Julgava eu que para tal acontecer seria necessário um conluio mórbido entre os agentes de mercado. Julgo que é mais provável acreditarmos que as acções do Benfica caíram depois da sua entrada em bolsa devido à rentabilidade esperada do capital do Benfica ser menor que o seu valor nominal, o que levou os investidores a transaccionarem as acções a preços inferiores. A tese dos maus que andam a prejudicar o Benfica na bolsa não parece razoável e muito menos a razão para esta OPA.

Qual o interesse de uma OPA que não garante o controlo da gestão? Poderia ser garantir uma posição financeira para o futuro mas isso não parece ser completamente razoável pois essa posição podia ser prejudicada não se tendo nenhum controlo na administração. Será que Joe Berardo decidiu ajudar o Benfica apenas? Bem se for assim os seus outros interesses financeiros ficarão prejudicados, pois os agentes de mercado não gostam de investidores que sejam completamente irracionais em termos económicos.

Será Berardo completamente irracional? Bem de certeza que não pois tem ganho muito dinheiro nos mercados financeiros, de tal forma que aposto que não só os agentes de mercado já o conhecem suficientemente bem para preverem algumas das suas intenções mas também a experiência de mercado adquirida por este e a sua capacidade financeira devem-lhe ter proporcionado instrumentos suficientes para conseguir influenciar os mercados.

Quem fica prejudicado com todo este movimento de hoje? Provavelmente os pequenos investidores que compraram acima de 3,5 euros, o valor da OPA (alguns terão comprado pelo valor nominal de 5 euros), e aproveitaram o meio da sessão de bolsa para recuperar parte das suas perdas.

Quem beneficia com tudo isto? Aqueles que compraram a 3,5 euros para baixo e aproveitaram o movimento especulativo de final de sessão. Esses ganharam o dia à custa dos primeiros e garantiram uma rentabilidade inimaginável a transaccionar as acções do Benfica. Esses representam o movimento do gráfico durante o fecho da sessão.

Existem outras questões adicionais que os próximos dias vão ajudar a esclarecer. Em primeiro lugar o lançamento de uma OPA a uma sexta feira, dia que é habitualmente usado pelos agentes do mercado para fecharem as suas posições e tentarem recuperar algumas percas acumuladas durante a semana, sendo assim um dia com um volume superior de negócios e nada atraente para lançar uma OPA. Em segundo lugar lançar uma OPA no momento pretende criar um choque de muito curto prazo, enquanto racionalizamos o que está a acontecer temos de comprar e vender. É um momento difícil de lidar para os investidores, especialmente quando no dia a seguir o mercado está fechado. Em terceiro e último lugar fica a questão acerca do possível uso de informação privilegiada. Existem contratos válidos sobre a SAD do Benfica nos mercados de derivados a ser transaccionados (eu tentei encontrar algum mas não consegui)? Quem transaccionou acções do Benfica em baixa durante as últimas semanas?

Espero que estas questões sejam esclarecidas pela CMVM pois a credibilidade e viabilidade de uma bolsa de valores que deixa os especuladores ganharem à custa dos pequenos investidores quando ficam dúvidas acerca da transparência dos acontecimentos é muito pequena.

Por fim queria referir que este movimento tem dois efeitos para o capitalismo de mercado. Em primeiro lugar demonstra que nem mesmo os pequenos investidores podem investir por critérios sentimentais e emocionais. Cada vez que fizerem isso e no caso das SADs essa carga existe, vão perder. Isto é bom para o mercado. Em segundo lugar quanto maior for a opacidade desta situação mais especuladores se sentirão atraídos para este mercado. Acontecendo o contrário com os pequenos investidores. Isto não pode ser bom para nenhum mercado no médio/longo prazo...

Cada vez mais certezas sobre o abrandamento económico dos EUA

No Blog de James Hamilton e Menzie Chinn, Econbrowser, encontrei dois excelentes artigos acerca do mais que provável abrandamento económico dos EUA nos próximos meses e do processo de ajustamento monetário e cambial que se avizinha que já tinha referido neste post. Pelos vistos a questão já chegou a um nível politico e irá ter desenvolvimentos nos próximos tempos, sendo provável uma retaliação comercial dos americanos devido à politica monetária extremamente agressiva da China.

Os dois posts a seguir com atenção podem ser encontrados aqui:

Keeping China's Yuan in Perspective

Lessons from the yield curve

Lista de Blogs académicos em Ingês sobre economia na Wikipedia

Depois de várias buscas a procurar listas de blogs de economistas ou acerca de economia encontrei esta lista de blogs supostamente todos académicos na Wikipedia de língua inglesa. Ainda com muito para editar deixo aqui o link:

Blogs in Economics

Infelizmente não encontrei nenhuma página que listasse blogs em língua portuguesa acerca de economia e como não tenho muito jeito para editar conteúdos no Wikipedia deixo aqui a sugestão...

Thursday, June 14, 2007

Politica fiscal e de despesa óptimas numa pequena economia aberta em crescimento

Desde a revolução provocada pelo trabalho de Paul Romer em meados de 1986 e conhecido hoje por nova teoria do crescimento económico ou crescimento endógeno, que vários economistas se têm debruçado acerca de diversas hipóteses para a concretização das ideias fundamentais do trabalho de Paul Romer. Entre as várias hipóteses propostas venho aqui destacar aquela que substitui a hipótese de Romer de externalidades positivas ao nivel agregado do capital privado por externalidades agregadas mas que surgem através dos bens públicos e gastos do Estado.

Basicamente Romer apresenta um estudo de bifurcações para o problema de Ramsey em economia fechada e determina as combinações de parâmetros onde o crescimento óptimo descentralizado é endógeno, neoclássico ou indeterminado. No entanto, a hipótese fundamental é que existem externalidades positivas ao nível agregado que os agentes e as firmas não levam em consideração nas suas escolhas mas que afectam o output final. Essas externalidades existem e não têm custos porque surgem de um processo de aglomeração industrial.

A partir da última década do século passado foram propostas várias funções de produção que consideram os gastos públicos como uma hipótese alternativa para a ideia inicial de Romer. Estas hipóteses consideravam que os gastos públicos poderiam produzir externalidades positivas na aglomeração e negativas através do congestionamento. Para a teoria do crescimento endógeno a primeira hipótese permitiu estudar a politica fiscal num contexto de crescimento óptimo e da teoria do bem estar, em que o Estado tinha um papel económico ao nível agregado mas tinha de cobrar impostos para conseguir providenciar os seus serviços. Estas abordagem é hoje conhecida como a teoria da politica fiscal óptima num contexto endógeno. Um excelente resumo da abordagem da politica fiscal e monetária em diferentes contextos macroeconómicos e de crescimento pode ser encontrada no artigo de V.V. Chari e Patrick Kehoe, "Optimal Fiscal and Monetary Policy".

Apesar da diversificação actual da investigação nesta área escolhi trazer aqui apenas as conclusões de Stephen Turnovsky, um dos autores mais relevantes e intuitivos a abordar estas hipóteses num contexto de pequena economia aberta. No artigo a que me vou referir, "Fiscal Policy and Growth in a Small Open Economy with Elastic Labour Supply" (working paper version link), Turnovsky estende as ideias debatidas nos parágrafos anteriores e acrescenta elasticidade à oferta de trabalho, permitindo aos agentes escolhas entre trabalho e lazer. Num exercício do tipo daqueles que encontramos na economia do bem estar em que o óptimo do ditador benevolente é comparado com o óptimo descentralizado Turnovsky obtém os seguintes resultados:

  1. Impostos sobre activos externos devem ser iguais aos impostos sobre o capital doméstico de forma a não provocar substituição entre um e outro devido a efeitos fiscais. Esta regra é no entanto limitada pelo facto de no caso dos indivíduos escolherem ter divida externa então poderíamos ter casos em que o Estado subsidiaria essa divida;
  2. Impostos Lump-Sum não afectam as escolhas dos agentes, ou sejam não distorcem as suas decisões. Este resultado é um resultado genérico das teorias acerca do impacto dos impostos, onde estes impostos são preferidos por só terem efeitos de nível ou riqueza. Nestes modelos uma hipótese de regra neste sentido seria ligar o nível de impostos Lump-Sum à taxa de crescimento da economia;
  3. O crescimento óptimo é obtido através de uma regra composta de impostos sobre o capital e da escolha da percentagem da despesa pública em relação ao produto. A regra de despesa é descrita por Turnovsky como a igualdade entre a elasticidade do produto em relação ao input do governo. Isto quer apenas dizer que a dimensão do Estado deve corresponder ao seu contributo para o produto, ou em termos genéricos que os gastos públicos devem ser iguais à produtividade marginal do sector público. Se escolhermos esta regra óbvia de eficiência pública todas as outras são dadas. O crescimento óptimo é obtido fazendo com que os impostos sobre o capital sejam iguais a zero;
  4. Assumindo que se escolheram as regras acima descritas então obtém-se a regra que não provoca distorções nos mercados de trabalho. Os impostos sobre o consumo e sobre o trabalho têm de ser simétricos. Isto implica que o trabalho terá de ser subsidiado neste contexto. Apesar de extraordinária, esta regra está de acordo com os princípios de taxação óptima de Ramsey que definem que qualquer sistema fiscal deve seguir algumas regras simples. A carga fiscal deve minimizar a carga excedentária total, o que significa que a taxação de um bem deve ser inversamente proporcional à sua elasticidade de substituição. Como nestes modelos apenas existe um sector produtivo que produz um bem de consumo então deveremos considerar a extensão à regra de Ramsey que define que deve existir proporcionalidade na taxação de factores e bens que provoquem uma diminuição da utilidade. No modelo especifico descrito isso significa que as distorções devem ser minimizadas nos mercados de trabalho através de uma taxação igual do consumo e do lazer os dois factores que aumentam a utilidade do agente. Como impostos sobre o lazer são equivalentes a subsídios sobre o trabalho então o conjunto de regras que optimiza o crescimento sem restrições neste modelo fica assim completo.
Por último, queria apenas referir que apesar de algumas destas regras serem consideradas radicais elas surgem num contexto de modelos matemáticos que muitas das vezes são simplificados de forma a permitirem uma análise concreta. Isto é especialmente válido quando os modelos usados são dinâmicos e como tal bastante difíceis de resolver. Este problema é especialmente relevante quando se trabalha em modelos de crescimento de economias completamente abertas ao exterior. Uma das criticas a esta abordagem prende-se com a ausência de qualquer consideração redistributiva e de equidade da política fiscal. Esta critica é particularmente pertinente em relação às ideias de Ramsey, apesar dos seus resultados, como sempre, serem bastante robustos em termos teóricos/matemáticos.

Tuesday, June 12, 2007

Por favor, Sr. António Costa, agradeço mas tenho de declinar


Sr. António Costa, venho aqui escrever-lhe esta carta aberta a pedir-lhe que não me envie mais publicidade da sua campanha para minha casa. Já tenho inúmeras corporações a fazer isso todos os dias e esperava que com a recusa de financiamento público por parte da Assembleia da República, a dose de poluição generalizada produzida pela campanha eleitoral fosse reduzida a níveis racionais, noto no entanto que a falta de dinheiro para a campanha deve ser só problema de alguns.

Sr. António Costa, pior do que poluir a minha caixa de correio sem me pedir a minha opinião e consentimento é polui-la com propaganda e demagogia barata ainda pior que aquelas empresas que dizem que ganhámos um prémio.

Por favor, Sr. António Costa, não chame independente ao Sr. Manuel Salgado proprietário da empresa de arquitectura Risco. Não sei como alguém que é um dos principais beneficiários de qualquer projecto de reabilitação urbana e promoção imobiliária pode ser independente do que se passa de errado em Lisboa.

Por favor, Sr. António Costa, não diga que vai resolver os problemas da cidade e resolver a questão urbana quando tem na sua lista, nos cinco primeiros lugares. uma antiga vereadora da habitação, intervenção social e educação e um administrador não executivo de um banco de investimento imobiliário. Não acho justo enviar-me publicidade acerca de mudar realmente a cidade quando existem pessoas na sua lista que fazem de certa forma parte, ou fizeram, dos problemas da cidade.

Por último queria perguntar-lhe algumas coisas, Sr. António Costa. Que nova estratégia é essa que fala para a cidade e que projectos são esses que o senhor não se refere especificamente? Que revisão do PDM vai o senhor implementar se alguma vez tiver o poder para isso, importava-se de especificar ou convém não referir por enquanto? Sr. António Costa, porque precisa de uma maioria para governar? Que me recorde da última vez que existiu uma maioria clara nos órgãos camarários acabámos com três eleitos arguidos em processos de corrupção urbana! Sr. António Costa, como se propõem a resolver o problema de gestão global da câmara e não apenas o financeiro? Julgo que não basta referir que se vai fazer mas é preciso definir como! Por último, Sr. António Costa, que raio de liderança, projecto e novas exigências para a cidade é essa que fala? Eu vivo por cá e estou farto de exigências sem contrapartida!

Por todas estas razões peço-lhe Sr. António Costa que não polua a minha caixa de correio com publicidade de má qualidade, deixe isso para as corporações mais atrevidas. Não é bonito andar a falar em espaços verdes quando durante a campanha destruímos mais espaços verdes que construímos depois quando eleitos. Por isso, Sr. António Costa, deixo-lhe novamente o meu apelo, pode ganhar, governar e fazer o que lhe for possível para o pior ou melhor mas por favor não polua mais a minha caixa de correio.

Beastie Boys em Lisboa!!!

Como ainda vão acontecendo muitas coisas boas por Lisboa deixo aqui um vídeo que encontrei no You Tube, do segundo concerto dos Beastie Boys em Portugal, que decorreu na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa ontem à noite. Já com uma certa idade, mas ainda a tempo, fica aqui um "cheirinho" do concerto instrumental de ontem.


Lisboa- Lidar com o verdadeiro problema

Diversos comentadores, políticos, candidatos às eleições da Câmara Municipal de Lisboa (CML) e outros fazedores de opinião têm afirmado que a principal tarefa do próximo executivo da câmara será resolver o problema financeiro de Lisboa. Bem se for assim bem podemos esperar que ele continue a piorar, pois a verdadeira causa da doença é outra, sendo esta apenas uma mera consequência do verdadeiro problema.

Onde está o problema financeiro da câmara? Sabemos que tem excesso de funcionários. Sabemos também que gere mal os programas públicos a seu cargo. Sabemos também que muitas vezes esses programas são mal geridos por empresas "inventadas" pela câmara. Sabemos também que os problemas de tesouraria são resultado da má gestão financeira dos projectos. Sabemos que as transferências do Orçamento de Estado pararam o seu ritmo de crescimento. Sabemos, por último, que a organização da câmara é antiquada e usa pouca tecnologia.No entanto, também sabemos que esses problemas poderão ser resolvidos com boa gestão. Nem é necessária que essa gestão seja extraordinária. A câmara ao contrário do que muita gente afirma tem receitas mais que suficientes para cumprir o seu papel de contribuir para o desenvolvimento da cidade. Além disso, é só o maior proprietário e não cobra impostos ao segundo maior proprietário que é o Estado. Gerindo bem os seus recursos humanos, imobiliários e fiscais possibilitará à câmara de Lisboa ter uma posição financeira invejável em comparação com qualquer outra cidade do país.

O único problema de Lisboa é a especulação imobiliária. Existe parte dela nos concelhos vizinhos que não é da sua responsabilidade. Se esta afectar gravemente a gestão da cidade então o que podemos fazer é taxar os irresponsáveis. Em relação aquela que acontece em Lisboa essa deve ser responsabilidade da câmara e a única solução no momento passa por travá-la e reequacionar a organização urbana da cidade. Não vale a pena pensar em espaços verdes, mais estacionamento, melhor tráfego e mais negócios com a pressão exercida pelos novos habitantes da periferia. Enquanto se promover a especulação esta pressão irá continuar sobre a cidade com movimentos de pessoas e com distorções brutais dos verdadeiros preços do imobiliário.

Qual o truque dos especuladores? Vender gato por lebre. Ocupar a periferia e vendê-la como o próximo paraíso (este é o último truque, um belo exemplo acontece hoje na Alta de Lisboa), depois com a conivência das várias autoridades abusar do PDM de forma a construir até os incautos compradores se aperceberem que aquilo não vale realmente o que pagaram, ou pelo menos que a rentabilidade futura será muito menor do que aquela que julgariam obter. Assim promotores, especuladores e construtores obtém lucros brutais que aumentam as receitas camarárias temporariamente e contribuem para os vícios gastadores da autarquia, tudo isto à custa de choques na oferta de imobiliário e consequente esmagamento dos preços de todas as outras zonas.

Através da distorção continuada do preço os especuladores provocam dois efeitos, em primeiro lugar diminuem o investimento futuro dos novos proprietários nas suas propriedades quando estes se apercebem da sua desvalorização (ou não valorização esperada) por força de um mau planeamento imobiliário. Em segundo lugar, esmagam os preços do centro através de continuados choques na oferta de imobiliário na periferia. Isso faz com que os proprietários do centro não tenham interesse em investir na sua propriedade no presente pois o retorno será muito pequeno. No fundo quanto mais podre melhor, pois nesse caso ainda se pode especular. Este processo leva-nos depois à sórdida parada de programas públicos de reabilitação urbana que esgotam o orçamento sem terem qualquer efeito na desorganização e degradação urbana, que avança muito mais depressa que a boa vontade dos nossos burocratas autárquicos.

Parar este processo em que só muitos poucos ganham é essencial. A verdadeira reabilitação urbana terá de ser feita maioritariamente pelos próprios proprietários, os programas públicos devem ser essencialmente para apoio técnico nesta área e devem-se focar nas verdadeiras falhas de mercado que acontecem na cidade. Para isto acontecer é preciso criar verdadeiros mecanismos de gestão urbana. Ao contrário do que muitos pensam estes mecanismos levarão ao aumento dos preços no centro em detrimento da periferia, apenas a verdadeira concorrência que surja após existir uma verdadeira reabilitação urbana poderá baixar as rendas. O verdadeiro papel da câmara neste cenário poderá passar por "parar" a especulação e intervir nas verdadeiras falhas de mercado especificas, como (de uma forma genérica): planeamento urbano, transportes públicos, cultura, espaços verdes, espaços públicos de lazer, serviços públicos específicos de saúde e segurança social, promoção da actividade económica e manutenção da propriedade pública. Existem outras falhas de mercados não referidas, como também existirão outras novas no futuro, no entanto, uma verdadeira politica com esses objectivos e pressupostos será sempre inglória enquanto novos bairros surgirem do nada e impliquem que a câmara ultrapasse os seus limites financeiros porque cedeu a gestão urbana aos interesses especulativos imobiliários.

Monday, June 11, 2007

Séries temporais e macroeconomia do básico ao quase-expert

Trago aqui duas sugestões para aqueles que depois de terem adquirido boas capacidades em econometria desenvolveram um interesse académico, pessoal ou profissional por previsão macroeconómica e pretendem desenvolver essas capacidades de forma a tornarem-se melhores modeladores e analistas.

Um dos melhores livros para começar é sem dúvida o Applied Econometric Time Series de Walter Enders. Este livro, extremamente intuitivo, explana a teoria de base das séries temporais e introduz o leitor à modelação aplicada em EViews. Existem duas vantagens em seguir um livro assim. Primeiro segue-se a teoria matemática estocástica da econometria aplicando-se a situações reais, o que permite não só uma melhor compreensão dos assuntos e sua aplicação o que potencia a capacidade de assimilação da teoria por parte do leitor. Em segundo lugar o software EViews é user-friendly e permite aplicações poderosas e avançadas sem termos de recorrer a nenhum tipo de programação, usando apenas os menus para o efeito. Além disso, o EViews tem um help file bastante completo que permite ao utilizador não só iniciar-se facilmente como também resolver situações mais complicadas sem grande esforço.

Porque é o livro de Walter Enders o documento ideal para um futuro modelador começar o seu trajecto? Em primeiro lugar raramente este livro deixa questões por responder, o autor Walter Enders disseca todos os procedimentos teóricos e aplicados para todos os assuntos discutidos. Não faltam exemplos ao longo do livro de todos os modelos discutidos e a apresentação é quase sempre irrepreensível, o que não é usual nesta área. Em segundo lugar os sete capítulos deste livro seguem o caminho adequado para um iniciado nas séries temporais com bases em econometria. Nos quatro primeiros capítulos somos introduzidos ao desenvolvimento e aplicação de modelos univariados. Equações diferenciais e as séries temporais, modelos ARMA e GARCH e modelos com tendência. Apenas no capitulo referente aos modelos com tendência parece a fluidez do texto ser afectada, não só em termos pedagógicos e cientificos como em termos de apresentação, tornando-se assim o único ponto fraco deste texto. Nos capitulos quinto e sexto temos a introdução aos modelos multivariados, Vectores auto regressivos, cointegração e vectores de correcção de erro. O leitor tem a oportunidade de conhecer facilmente a complexa teoria envolvida e é apresentado a várias especificações para aplicar em Eviews. O último capitulo introduz o leitor a modelos não lineares e com mudanças de regime sendo o final perfeito para um livro introdutório mas avançado.

A segunda sugestão que aqui trago já não se refere a um livro introdutório da teoria das séries temporais mas sim um texto avançado para aqueles que pretenderem serem modeladores e/ou analistas na área da macroeconomia. O livro de Carlo Favero, Applied Macroeconometrics, introduz o leitor a aplicações avançadas na área da macroeconomia e desenvolve a discussão das diferenças entre as várias escolas da modelação macroeconométrica. Tal como a sugestão anterior também este livro tenta apresentar aplicações práticas variadas baseadas em Eviews, sempre que isso é possível. Começando com a introdução às aplicações de dados de painel para o modelo de Sollow do crescimento económico neo-clássico, de forma a exemplificar o poder dos modelos de séries temporais em oposição à modelação com dados cross section, seguindo depois para um capitulo mais teórico que discute a estrutura probabilística dos modelos de séries temporais, onde são repetidos alguns conceitos de uma forma mais resumida em relação à abordagem extensiva do livro de Walter Enders. Os capitulos três a seis são dedicados ao problema de indentificação na macroeconometria e é apresentada as teorias das três principais escolas da macroeconometria, Cowles Comission, London School of Economics(LSE) e por fim a escola VAR que se baseia nos vectores auto regressivos. Diversos exemplos de aplicações, teorias e modelos são apresentados e discutidos em termos teóricos e em termos aplicados. O livro de Carlo Favero termina a sua abordagem com chave de ouro, através da apresentação de dois capítulos dedicados à estimação de parâmetros de modelos macroecnómicos, com base no método generalizados dos momentos(GMM) e à calibração de modelos dinâmicos estocásticos, apresentando todo um exemplo para aplicação em MATLAB. Ambos os capitulos são fundamentais para uma abordagem avançada do tema e é raro encontrar um livro que os introduza e desenvolva com aplicações práticas de uma forma tão clara como o Applied Macroeconometrics o faz.

Fica aqui assim a minha sugestão para todos aqueles estudantes ou profissionais que pelas mais diversas razões pretendam desenvolver capacidades de modelação avançada e análise macroeconómica. Seguir estes dois livros vai permitir o leitor desenvolver capacidades aplicadas nesta área, sem a habitual dispersão e obtusidade promovida pelo literatura académica e que em conjunto formam o pacote ideal para aqueles que pretendem ser quase-experts nesta área.

Saturday, June 09, 2007

Inovação=Competitividade?

Já há algum tempo tinha escrito uma crónica sobre a falta de perspectiva no seu próprio negócio que as empresas portuguesas geralmente têm. Agora encontrei no Blog Capital Intelectual um pequeno artigo muito mais objectivo que aborda este assunto com alguns dados interessantes sobre a falta de importância que as firmas portuguesas atribuem à inovação como processo de acrescentar valor acrescentado aos seus produtos. Este post, a seguir com atenção, encontra-se aqui, "Portugal inova, mas para cortar custos".

Existem algumas semelhanças entre as ideias discutidas aqui e a crónica que já anteriormente tinha escrito- "Flexigurança, a Empresa X e a rigidez salarial assimétrica". Fica aqui o link para quem quiser seguir este assunto...

The Trap: What happened to our dream of freedom (ep.2 of 3)

Segundo episódio do documentário de Adam Curtis sobre o impacto da teoria dos jogos nas ciências sociais e o seu reflexo na sociedade ocidental nas últimas três décadas. O primeiro episódio pode ser encontrado aqui. Chamo a atenção novamente para a impossibilidade de se usar a função de full-screen fora do google video e deixo a sugestão para utilizarem o link do google video se pretenderem ver o filme dessa forma. Apesar do inicio ser igual ao anterior episódio isso deve-se ao facto de este ser um documentário de três horas e a introdução servir como prólogo para todos os episódios.


Friday, June 08, 2007

Simuladores de sistemas dinâmicos (ODE) para problemas de valor inicial

Durante uma fase da minha investigação para o mestrado deparei-me com a necessidade de executar algumas simulações numéricas numa base experimental mas sem tempo para programar. Não é fácil pensar em matemática, economia e simulação de modelos matemáticos de equações diferenciais ao mesmo tempo. Desta forma pesquisei durante algum tempo até encontrar este verdadeiro achado na Internet de um senhor chamado John Polking.

Assim em jeito de divulgação cientifica deixo aqui uma introdução ao potencial dos simuladores de ODE's para MATLAB que John Polking divulga na sua página pessoal.

Em primeiro lugar temos a rotina DFIELD para análise de uma ODE, o PPLANE que nos permite analisar os diagramas de fase de sistemas dinâmicos de duas dimensões e finalmente o ODESOLVE que permite observar trajectórias de sistemas dinâmicos de várias dimensões, todos eles utilizam rotinas de problemas de valor inicial existentes no MATLAB.

Todos estes m files para MATLAB encontram-se disponíveis para download neste link. Como se isto não basta-se John Polking é um dos autores de Ordinary Differential Equations using MATLAB que tem uma versão online antiga em pdf disponível neste link. Este manual além de ajudar à iniciação de rotinas para ODE em MATLAB tem os vários capítulos que servem de suporte às rotinas descritas. Como exemplo do potencial destes simuladores user-friendly deixo aqui o diagrama de fases em três dimensões e em duas dimensões (só as variaveis x,y) do problema conhecido por Lorenz Strange attractors. Além de bastante simples de configurar os sistemas que queremos simular numericamente, todas as rotinas possuem uma galeria de problemas conhecidos, este encontra-se como é óbvio apenas no ODESOLVE.

Eventualmente tive de criar as minhas rotinas no MATLAB para conseguir obter um maior controlo sobre as minhas simulações, no entanto, não posso deixar de referir a tremenda utilidade dos programas de John Polking, que permitem fazer uma abordagem inicial a sistemas complexos sem se perder tempo excessivo de programação. Muitas vezes essas intuição inicial revela-se fundamental na concretização de simulações mais complexas como foi o meu caso.

O script genérico para simular problemas de valor inicial para sistemas de ODE pode ser encontrado aqui, este já é o script para MATLAB que é possível parametrizar:

Simulador genérico em MATLAB para sistemas de ODE

Uma aplicação que usa o software de John Polking e o simulador genérico para MATLAB num modelo de crescimento endógeno com transições para análise numérica pode ser encontrado aqui:

Exemplo para simulação de problemas de valor inicial em sistemas dinâmicos

Contribuindo para um grande império de energias renováveis

António Mexia em declarações ao DN discute como a presença do Estado é fundamental para a concretização das aquisições de empresas de energias renováveis nos EUA. Mexia garante também um crescimento de 13% ao ano do EBITDA da EDP, acima do sector a nível mundial o que somado às aquisições vai tornar a EDP um grande player a nível mundial. O texto integral aqui:

Mexia defende manutenção da posição do Estado na EDP

Parece-me que as tarifas altas e o abuso de posição dominante sempre servem para alguém prosperar e não servem só para implementar a rede eólica nacional. Esperemos que a privatização anunciada preveja na sua totalidade este contributo magnifico dos contribuintes e consumidores portugueses para criar multinacionais, empregos e inovação a nível mundial.

Thursday, June 07, 2007

Estarão os EUA à beira de uma recessão?

Facto 1- As taxas de juro de longo prazo a 10 anos prazo indexadas à inflação retomaram
a tendência de crescimento que evidenciam desde o final de 2005. Neste momento encontram-se novamente junto dos picos ocorridos durante 2006 e início de 2007, reflectindo uma indicação clara dos mercados em relação às perspectivas de crescimento no médio prazo.





Facto 2- Esta pressão nas taxas de juro de longo prazo está a provocar uma tendência clara de quebra no investimento real. Este fenómeno não aconteceu durante os picos referidos de 2006 e 2007 o que indica que as perspectivas dos mercados financeiros começam a ter efeitos na economia real. De realçar também que todas as quebras acentuadas no investimento provocaram recessões, como se pode observar pelas áreas assim determinadas a sombreado pelo NBER.



Facto 3 - A balança de transacções correntes aqui em termos nominais parece finalmente começar a inverter a sua tendência. Em termos reais e em percentagem do PIB esta tendência deverá certamente ser bastante mais acentuada o que indica que a economia real começa a reflectir a quebra do dólar nos mercados de divisas. Um claro sinal que o financiamento excessivo dos EUA em relação ao exterior, durante os últimos anos, começa a ser finalmente corrigido.




Facto 4 - O mais estranho! A correcção actual da balança de transacções correntes dos EUA tem muito a ver com a desvalorização ainda limitada do Yuan chinês. Como o défice comercial dos EUA é sobretudo em relação à Ásia e especialmente em relação à China, isto poderia indicar que se tratava essencialmente de um movimento de correcção das taxas de câmbio. Os indicadores reais parecem indicar que é mais do que isso. No entanto, não terá todo este problema sido criado artificialmente pelo desvalorização administrativa do Yuan em finais de 1994 e a insistência em manter a paridade com o Dollar durante 10 anos?

Se estas perspectivas se concretizarem maus dias se perspectivam para o crescimento mundial e especialmente negros para os países com elevado endividamento externo e dívida em dollars. Estes países são em maioria pertencentes ao grupo dos denominados países em vias de desenvolvimento, que não só vêm um dos seus maiores clientes com menos dinheiro para gastar como também vêem as suas perspectivas de crédito a longo prazo começarem a deteriorar-se.

Com estas perspectivas Ben Bernanke só pode esperar que o Governo Federal o ajude com uma contracção fiscal em tempo de guerra, o que não parece muito provável. Sem coordenação com a política fiscal o FED não terá outra hipótese senão praticar uma politica monetária restritiva que mantenha o Dollar competitivo e não o deixe afundar-se ainda mais nos mercados, permitindo um reajustamento sem inflação.

Wednesday, June 06, 2007

Sobre a Politica de Trabalho e o Desemprego

Já há uns tempos que andava com a ideia de escrever algo sobre a situação do desemprego em Portugal e da política de trabalho deste governo PS. Felizmente para mim no dia que decidi escrever o Pai da Flexigurança, antigo primeiro ministro dinamarquês e hoje lider da Partido Socialista Europeu concedeu entrevistas ao DN, link aqui, e ao JN, dois links, 1ªparte e 2ªparte da entrevista.

Nestas curtas entrevistas Poul Rasmussen novamente reafirma as suas convicções em relação à Flexigurança e insiste no seu modelo, como uma possibilidade de politica de trabalho para os países desenvolvidos que pretendam lidar com os desafios da globalização. Concordo com quase todas as ideias de Poul Rasmussen em relação aos mercados de trabalho e desafios futuros, com excepção da ideia que podemos estar a debater a questão durante 5 a 6 anos antes de tomarmos medidas que invertam as tendências que hoje existem no mercado de trabalho português. Sou da opinião que é possível neste momento fazer algo sem custos adicionais para o Estado que melhore significativamente a situação.

Em primeiro lugar queria definir aquele que eu acho ser o maior desequilibro da legislação laboral e quais as suas implicações. Neste momento existem restrições enormes ao despedimento individual, criadas pelo código do trabalho de Bagão Félix, contratação colectiva, pelas mesmas razões, e aumento dos custos de segurança social para as empresas impostas pela nova lei do subsidio do desemprego, nomeadamente restrições em relação às indemnizações e subsidio de desemprego e também as restrições ao lay off em termos temporais. Este desequilibro legislativo tem sido na minha opinião o grande responsável pelo desemprego até aos 35 anos, especialmente em relação aos trabalhadores qualificados, pois é um enquadramento institucional que beneficia claramente os trabalhadores com mais experiência no mercado de trabalho em detrimento dos restantes grupos. Deixo aqui o link para o relatório do emprego no 1º trimestre do INE cujos números confirmam esta tendência.

Qual o problema que foi criado por esta legislação? Coloco-me no lugar do empregador que pretende contratar alguém com determinadas qualificações para responder a esta questão. Quando escolho um novo trabalhador existe um determinado grau de incerteza em relação à sua real competência, sendo que eu como empregador tenho de determinar através da informação dada pelo candidato a sua qualidade potencial. O trabalhador sinaliza as suas qualidades geralmente através da educação adquirida e experiência anterior. Não é muito difícil perceber que qualquer empregador enfrenta uma assimetria de informação em relação às qualidades do trabalhador e que esta diminui à medida que a experiência do trabalhador aumenta, pois é mais fácil aferir da sua qualidade desta forma. Este jogo tem outra implicação óbvia, os trabalhadores enfrentam um problema de risco moral pois pode-lhes ser benéfico tentar mostrar, através da sua sinalização ao empregador, mais qualidades do que aquelas que realmente têm, de forma a enganar o empregador. Este problema, como é óbvio, diminui à medida que o trabalhador adquire uma experiência no mercado que torne mais fácil aferir da sua competência.

No inicio tinha referido que a legislação actual aumenta o problema que que acabei descrever, desequilibrando a situação a favor ainda mais em relação aos trabalhadores com mais experiência. Em primeiro lugar porque aumenta brutalmente os custos de lay off dos trabalhadores com mais experiência através da transferência de custos de segurança social do Estado para as empresas, das restrições impostas em relação ao número de lay offs em determinado momento no tempo e nas enormes restrições ao despedimento individual impostas pelo código do trabalho. Em Portugal é mais fácil despedir cinco pessoas de uma vez e chamar-lhe despedimento colectivo do que apenas uma. Estas restrições e custos impostos às firmas limitam drasticamente as suas capacidades de reestruturação, além de limitarem a entrada de novos trabalhadores, não só pela falta de lugares disponíveis como também pelo custo implícito que existe ao contratar um novo trabalhador. Este custo aumenta com a incerteza em relação à competência do trabalhador. Em segundo lugar porque implica que as empresas façam um trade-off entre experiência dos seus trabalhadores versus juventude e novas qualificações, implicando directamente na politica da firma e limitando a sua organização interna. Não acredito que regulação da organização dos recursos humanos de uma firma deve ser o objecto de nenhuma legislação laboral.

O que podemos fazer acerca disto? Além das óbvias alterações legislativas necessárias de forma a não tornar o código do trabalho e a lei do subsidio do desemprego entraves ao desenvolvimento e ao emprego, como uma maior abertura ao despedimento individual, reabilitação da contratação colectiva e fim das restrições económicas à reestruturação empresarial, podemos também criar incentivos sem custos adicionais de forma a inverter todo a tendência do desemprego dos mais jovens. Uma medida razoável neste contexto seria a possibilidade de contratação
por parte das firmas de um individuo até aos 35 anos, uma única vez, durante um máximo de três anos sem custos de segurança social, sem direito a subsidio de desemprego em caso de cessação do contrato durante esses três anos ou da sua não renovação e com indemnizações iguais a metade da indemnização legal em caso de rescisão antes do final do período de três anos. Esta simples medida permitiria reduzir o risco de contratação de trabalhadores mais jovens por parte das firmas e melhorar o equilíbrio entre gerações no mercado de trabalho com custos limitados para os trabalhadores mais velhos. Adicionalmente, esta politica não teria custos para o Estado sendo que permitiria aumentar as suas receitas através de IRS dos novos trabalhadores, IRC das firmas através do crescimento económico e IVA através de um aumento da actividade económica com o aumento do emprego entre a população mais jovem. Além destas razões temos de adicionar também a diminuição dos custos em relação aos subsídios de emprego e formação dos trabalhadores jovens que venham a ser empregados neste programa e também aqueles que continuam mais tempo empregados no futuro. Estes rendimentos e poupanças descritos poderiam servir posteriormente para apoiar os trabalhadores mais velhos através de subsídios de desemprego, formação e incentivos à criação de empresas que poderiam ser afectados por esta politica.

Não pretendo impingir as minhas convicções que para alguns serão liberais queria apenas terminar por dizer que não acredito na actual politica laboral deste governo. Continuar a falar de flexisegurança e depois aplicar medidas restritivas às firmas e ao mercado de trabalho não me parece que vá resolver o problema nem seja correcto do ponto de vista politico. Adicionalmente também não concordo que as alterações ao código do trabalho sejam feitas por base num livro branco que ninguém conhece e nunca foi discutido e que estas alterações estejam só previstas para o próximo ano. Este critério opaco e nada proactivo não faz o meu feitio e deixa-me sérias dúvidas em relação à discussão e alterações que serão introduzidas no futuro.

Tuesday, June 05, 2007

The Trap: What happened to our dream of freedom (ep.1 of 3)

De forma a diversificar os conteúdos disponíveis no economia decidi criar uma secção destinada a documentários relacionados com a economia, politica e sociedade. Seguindo a tradição das exibições de cinema alternativo irei seguir uma apresentação baseada em autores, sendo o primeiro a ser apresentado o realizador inglês Adam Curtis vencedor de vários prémios Bafta na categoria de documentário.

Este documentário, The Trap, está dividido em 3 episódios, sendo o titulo deste episódio - What happenned to our dream of freedom. O tema abordado é a introdução da teoria dos jogos nas ciências sociais, nomeadamente na psicologia e economia, e o seu impacto na politica e na sociedade ocidental durante as últimas décadas. Entre outros notáveis podemos encontrar a participação do próprio "pai" da teoria dos jogos, John Nash.





Devido à impossibilidade de carregar o comando de full-screen com esta versão do flash player talvez seja aconselhável seguir o link do google video que vai directamente para o filme e que se encontra no próprio flash player. No google video já é possível utilizar a opção full screen.

Indiferença na acumulação ou equilíbrio externo numa pequena economia aberta

Para as pequenas economias abertas como Portugal a abertura dos mercados internacionais possibilitou a oportunidade de obter os recursos, tecnologia e mercados necessários para potencializar o seu crescimento. No entanto essa oportunidade foi obtida com o fim do proteccionismo e uma liberalização dos movimentos de capitais, que nos casos de perca de competitividade podem significar que os fluxos que potenciam o crescimento se alterem e aconteça exactamente o efeito oposto.

Basicamente este dilema pode ser exposto como um problema de indiferença na acumulação entre activos externos e capital doméstico. Ao contrário do que se costuma pensar uma pequena economia aberta não entra em recessão automaticamente quando perde competitividade, pois os agentes podem sempre recorrer ao exterior de forma a obter recursos que lhes permitam manter o mesmo nível de consumo anterior. Se este efeito for conjuntural então apenas temos diminuição da riqueza liquida que terá efeitos reduzidos no longo prazo. Se no entanto a perda de competitividade for estrutural, então a produtividade marginal liquida doméstica, isto é, a rentabilidade do capital doméstico deixa de estar em equilíbrio com a rentabilidade dos activos externos e até se obter um novo equilíbrio o ajustamento será longo e dependerá do ajustamento estrutural que seja considerado.

De forma a simplificar este problema podemos reduzir uma pequena economia aberta a um individuo que gere um negócio cuja produção vende para o exterior e que pode obter a uma dada taxa de juro internacional rendimentos de activos externos ou acumular a divida que ache ajustada. Vamos supor que ele terá sempre uma posição liquida positiva. A um dado momento devido a um choque tecnológico negativo o negócio deste individuo começa a perder competitividade em relação a outros produtores no exterior e a sua quota de mercado reduz-se deixando este individuo com menos recursos financeiros. A primeira atitude dele é não ser afectado na sua utilidade e utilizar a oportunidade de obter fundos no exterior para manter o seu nível de vida. Isto permite ao individuo reduzir pouco o seu consumo mas afecta o seu investimento e acumulação de capital no seu negócio até atingir um nível insustentável de encargos em relação ao estrangeiro. O individuo sabe que esta situação tem de ser alterada pois os seus credores não estão dispostos a continuar a proporcionarem-lhe fundos indefinidamente. Estamos na posição inicial do gráfico exposto em cima.

O gráfico acima foi obtido de um modelo de crescimento endógeno para pequenas economias abertas e exemplifica a convergência para o longo prazo a partir desse momento. Podemos pensar na convergência como uma relação dinâmica entre o investimento e o capital ou então em termos estáticos no equilíbrio macroeconómico entre a rentabilidade dos activos externos e internos. Inicialmente o individuo usa os seus recursos não para investir em activos domésticos mas sim em activos externos que possuem uma melhor rentabilidade. Apenas quando se reaproxima do reequilíbrio financeiro de longo prazo se torna rentável recuperar o investimento doméstico e consequentemente a produção. Este tipo de efeito é semelhante ao que se passa hoje na economia portuguesa em que as famílias preferem colocar as suas poupanças em activos externos através do sector financeiro a investir em actividades produtivas domésticas, esse efeito dilui-se à medida que as famílias readquirem a sua posição financeira e a convergência para o reequilíbrio estrutural é retomada.

No gráfico acima encontra-se um possível processo de convergência partindo da hipótese relatada. Como se trata de um modelo de crescimento endógeno as variáveis consumo (c*), divida externa (b*), investimento (i*) e capital (k*) encontram-se definidas como desvios em relação à tendência de longo prazo. Os movimentos específicos observados nas variáveis dependem dos parâmetros da simulação e dos valores iniciais, em especial o efeito de over-shoot da dívida externa na transição para o longo prazo. Devido às hipóteses iniciais a rentabilidade do capital interno tem de estar em equilíbrio em relação à rentabilidade do capital externo, isto significa que uma pequena economia aberta apenas pode divergir deste equilíbrio durante uma transição, seja ela positiva ou negativa. Esta hipótese é consistente com a ideia de que as pequenas economias, apesar de terem recursos limitados, podem utilizar os recursos e mercados do exterior para crescerem acima do seu potencial mas continuam limitadas ao enquadramento externo que enfrentam.

Este é o primeiro pequeno artigo acerca da dinâmica de crescimento em pequenas economias abertas que o Economia pretende apresentar nos próximas semanas, que abordarão diversos de temas de politica económica em pequenas economias abertas. No próximo artigo abordaremos o impacto das decisões de politica fiscal e despesa pública no crescimento de longo prazo.